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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pedaços de vida

Raul tinha costume de colocar todas as moedas que recebia numa gaveta da cômoda, mas começou a notar que as moedas estavam diminuindo e me perguntou se era eu que estava pegando, falei que não. Perguntei para as crianças se estavam usando as moedas da gaveta, prontamente o Zorza falou: "sou eu". Questionei porque estava fazendo isso, falou, "a senhora disse que tudo que tem aqui em casa é da família, como sou da família posso usar". No fundo ele tinha razão, mas falei que era melhor ele pedir, podia ser que eu precisasse do dinheiro, nunca mais pegou um real.

Nos bulinhos da cozinha eu guardava minhas economias. Raul ia para o Banco e sempre deixava um dinheiro para despesa do dia, eu guardava o troco e, quando chegava o dia dos pais, tinha dinheiro para comprar uma roupa nova para as crianças darem de presente. Comprava sapato, meia, cueca, calça, camisa, gravata e blaser. Tudo do bom e do melhor, ele merecia!

Eu não gostava de encher os potes de mantimentos, quando acabava algum, sempre pedia para alguém encher para mim. Estava com uma ajudante nova e pedi para ela completar os depósitos, falei "não gosto de fazer isto", e ela, na sua simplicidade, falou, "quem dera que eu pudesse encher os depósitos lá em casa", fiquei calada, mas aprendi! Agora encho com o maior prazer.

Um sobrinho de Raul veio trabalhar uns meses em Vitória e perguntou se podia ficar lá em casa. Saía cedo, depois do café, e só voltava muito tarde, era muito farrista. Começou a contar suas conquistas na hora do café da manhã, ouvi um dia, dois, ai resolvi abrir o jogo: o problema era dele se conseguia tudo com as garotas, mas que eu preferia outros assuntos lá em casa. Pediu desculpas e continuou com as conquistas mas sem comentários. Um dia estava deitado na sala, no final de semana, e Madrinha, sempre muito brincalhona, chegou e quando foi apresenteda a ele falou, "você é bicha?" Ele, sempre metido a garanhão, ficou vermelho, ai ela falou "se não deu de moça, de velho não escapa." Tive muita vontade de rir, porque ele ficou caladinho. Quando foi embora, falou quando fossemos a São Paulo para procurar por ele para sairmos juntos, até hoje não encontrei mais.

Nevinho começou a namorar uma menina aqui de Vitória, estava apaixonado, e toda folga vinha para cá. Nós adorávamos, para mim era como filho, mas depois acabaram. Ele, em São Paulo, casou e pouco tempo depois que o filho nasceu sofreu um acidente de moto e nos deixou. Zorza sentiu mais que todos aqui em casa, era o companheiro das aprontações dele.

3 comentários:

  1. Nuuuussa, que saudade de Nevinho, ele era muito legal mesmo!!!!

    Mãe tá ótimo!

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  2. Que lição essa dos depósitos, hein... é para ouvir e aprender mesmo. Obrigada por estar passando isso pra frente. as suas lições tb nos ensinam. Te amo. Beijosssssssssssssss

    ps: aposto que esse sobrinho de raul eu conheço!!! rsrsrs

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  3. Voce sempre tira o melhor de qualquer situação né mãe...bonito isso e quanto a Nevinho...uma pessoa mais que especial..inesquecível esse primo,lembro de todos os detalhes dele,aqueles olhos claros lindos...uma barba metida a ser grande,cabelo cacheado e cheio...aquele cara era lindo por dentro e por fora,bjs mãe obrigada por trazer lembranças tão boas!!

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