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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

PS.: Gracinha

Thaissa pediu para explicar melhor esse caso da Gracinha. Então, lá vai:

Guando moramos em Cambuquira, nosso jardineiro veio nos contar que tinha uma família com cinco filhos que o pai ia ser preso e eles estavam dando os filhos.

Gracinha, "Maria das Graças", era a mais velha, tinha uns dez anos, ficou morando conosco. Raul foi no cartório e fez tudo o que precisava. Os pais dela sumiram, moramos mais um tempo lá e nunca mais apareceram.

Mudamos para SP, levamos ela também, depois que cresceu tinha vontade de saber dos paies, mas mesmo voltando a passeio em Cambuquira nada soubemos deles.

Quando mudei para Vitória, em setente e três, Gracinha já estava casada e com um filho, veio nos visitar e comentou que ainda tinha esperança de encontrar os pais.

Continua

Por mais que eu pedisse para ir, ele dizia "não tem necessidade de você ir" , isto até a hora que já estava saindo, quando mandava eu me trocar depressa. Em todas às vezes que eu queria ir a algum lugar ele me deixava sem saber se poderia até a última hora e é assim até hoje!

Raulzinho tinha problema de bronquite, ás vezes tossia muito até dormir, isto deixava o pai nervoso. Ele ficava na varanda para não ouvir a tosse. Depois arranjou um médico que fazia uma vacina e este problema acabou.

Não sei se já contei que quando estava grávida de Mônica, fui a uma médica no nosso bairro, ela tinha quatro filhos. Tudo o que eu falava que estava sentindo, ela falava "já passei por isso e é assim mesmo". Depois do exame, estávamos em final de novembro, ela falou que eu tinha errado a conta e que me aconselhava a evitar sair pois a neném ira nascer aquele mês. Por mais que eu explicasse, ela teimava. Não existia ultrasom e eu fiquei de castigo, quase sem sair dezembro, janeiro e fevereiro. Em fevereiro arranjamos outro médico que pediu uma radiografia e viram que o bebê estava fora de posição, como era muito grande, não teve jeito de virar. Todos os dias Anna perguntava: é hoje que este neném vai nascer?
Todos diziam que ele estava sentado em um banquinho sem pressa de nascer, e eu só engordando, parecia uma bola gigante.

Um dia quando acordei, abri a janela do quarto e vi que o chevrolet não estava em frente de casa, avisei a Raul, mas ele achou que eu estava brincando... tinham roubado o carro! Mas não foram longe, achamos logo adiante em uma ladeira.

O que foi feito?

Quando casamos, as irmãs deram os pesames a Raul, ainda bem que ele confiou em mim e viu que eu era boazinha, ela estavam enganadas.

Às vezes, Odete ia saindo de casa e eu descobria que estava usando uma de minhas anaguas(quem não sabe o que é isso, são saias que usávamos sob a roupa para ficar mais armada)engomadas e com muitos bordados, as dela não sabia aonde estavam, talvez estivessem sendo lavadas... eu fazia ela tirar na hora,podia estar na varanda de casa, mas não tinha perdão, era bravinha mesmo!

O que foi feito dos lindos vestidos que mandava costurar, um por semana, dos meus vestidos de baile, da minha coleção de batons e principalmente, o que senti mais, aonde estão meus livros? A coleção M. Delly, coleção das moças, meus romances que eu amava, mas que ficaram na casa da Santa Clara. Um dia perguntei à mamãe... Os vestidos acho que ficaram para as ajudantes, mas os livros, quando alguém chegava querendo algum emprestado mamãe dizia que era para subir no terceiro andar e pegar na estante, só que não devolveram.

Luciana começou a andar muito cedo, tinha nove meses e já andava pela casa toda, foi assim também com a filha dela.

As crianças estavam crescendo e com mais duas meninas em casa, tinha que costurar para todo mundo, inclusive para mim. Arlethe quando não queria mais as roupas mandava algumas, era ótimo! Vestia coisas finas outra vez.

Quando levava as crianças ao médic,o era sempre no serviço médico do Banco, na rua São Bento. Era uma novela! Além de não conhecer SP muito bem, pegava o ônibus e ia levando cada filho, segurando em de cada lado.

Conheci umas enfermeiras que gostaram das minhas roupas,começaram a levar tecidos para elas, ganhava pouco mas era sempre um extra.

Quando mudamos de Colatina, o melhor móvel que tinhamos ficou lá, não cabia no caminhão, quando saímos de Cambuquira vendemos os móveis da copa. Fomos às Lojas Pirani e passamos duas tardes escolhendo coisas que precisávamos e com isto abrimos um crediário. Compramos dois sofás-cama para a sala, eram brancos e ninguém notava que tinha mais utilidade do que sentar. Um abajour de ferro com uma bola grande branca que iluminava suave, uma mesa para a copa(não tínhamos sala de jantar), era redonda, com o tampo de fórmica amarelo clarinho, as cadeiras eram estofadas. Aproveitamos e compramos camas para as crianças, que eram dois e dormiam no mesmo quarto, e os móveis de aço para uma parede da cozinha. Foi uma ótima compra, aproveitei o crediário e comprei uma roupa chique para cada um.

Eu e Anna tínhamos nosso quintal separado por um muro de dois metros de altura, aquilo não nos impedia de conversar. Quando os maridos saíam e as crianças íam para o colégio, cada uma subia em um banquinho e ali ficávamos conversando, mas nem por isso o serviço atrasava. Moramos sete anos e sempre fazíammos a mesma coisa todo dia, nunca nos aborrecemos uma com a outr,a apesar dos filhos estarem sempre bricando juntos.

Raulzinho precisava operar a adenóide, estava tudo marcado e Raul dizia que eu não iria até a Beneficiência onde seria a operação.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Sinto falta de São Paulo.

Na rua do Grito, "foi la que D. Pedro gritou e correu porque estava com dor de barriga", tinha um Médico espírita que atendia grátis, tinha que chegar bem cedo para conseguir ficha, fizemos propaganda. Papai foi operado lá, até a filha de Odete que estava com sete anos e teve princípio de crupe também foi consultar lá. Hoje é medica Otorrino e pelo que sei não teve mais problema com a garganta.

Um dos filhos de Arlethe estava precisando ser operado do coração. Vieram para SP e consultaram com o Dr. zerbine que era o melhor cardiologista da época. Américo tinha medo de mandar operar, ficou em dúvida, entrou numa Igreja e saiu de lá confiante que tudo ia dar certo e deu. Precisavam de muito sangue, quando Raul soube, pediu ao Gerente do Banco que liberasse os colegas, a maioria doou. Hoje está ai belo e formoso.

Zorza nasceu, em um domingo, quando olhei para ele só vi boca pois estava chorando muito. Luciana começou a estudar no mesmo Colegio de Raulzinho e Rosana, fez a primeira comunhão lá mesmo, parecia uma boneca com vestido comprido de tafetá. Todas as meninas tinham que usar o mesmo modelo, caprichei mais para ficar mais rodado mas o modelo era igual de todas.
Raulzinho fez a dele no próprio bairro que morávamos, foi de terno azul marinho e muito compenetrado.

Aos domingos saíamos para dar uma volta pelos arredores. Andávamos por lugares ermos e descobríamos morangos silvestres e plantas que conhecíamos.

Em frente a nossa casa tinha uma feira, era ruim o cheiro depois que acabava.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Minha vida continua...

Quando Raulzinho estava com três meses, recebemos a vizita dos irmãos de Raul: Névio com Anna e a filha Rosana, Pedro com a esposa Naya, dois filhos e grávida do Paulinho. Fiquei feliz, mas preocupada, muito sem prática de casa, não sabia o que fazer para o almoço. Abri ageladeira e fui tirando de tudo um pouco: carne seca, linguiça carne de boi e resolvi improvisar um cozido, uma comida bem capixaba. Coloquei muita verdura, milho verde e acabou dando certo. Eles gostaram e sempre lembram daquele dia. Ainda bem, pois fiquei muito apavorada.

Vagou uma casa de Dr. Raul, meu médico, e mudamos. A casa era muito melhor, era térrea, com uma sala grande, dois quartos, uma boa cozinha e uma varanda na parte de trás, onde faziamos as refeições.

Quando moramos no Sul de Minas fizemos boas amizades. Gino e Maria, um casal de italianos, ela cozinhava muito bem e me ensinou a fazer macarrão á bolonhesa e lasanha. Era um pouco brava, mas adorava o Brasil e não queria voltar para a Itália. D. Raquel e sua filha - Helenice.

Arranjei uma babá ótima para Luciana, Maria, filha do cozinheiro do hotel. Raulzinho tinha uma babá que brincava muito com ele, veio à Vitoria conosco para o batizado de Luciana. Mamãe, depois de ficar um tempo lá em casa, voltou para Vitória.

Eu, Raul, Raulzinho, Elza, a babá, e Luciana viemos de jipe. Saímos de Cambuquira, às duas da madrugada, queríamos ir direto até Vitoria. Depois que passamos de Caxambú a roda do jipe saiu, foi um susto! Paramos enquanto Raul, com a ajuda de um Sr., arrumava o carro. Não existia fralda descartavel, cada vez que trocava a roupa das crianças ia quardando tudo para lavar quando chegasse à Vitória.

Tinha costurado um vestido que usava tipo trapésio e fiz acima do joelho como estava usando, falaram logo, você vai usar este vestido curto desse jeito? Nem liguei.

Luciana batizou no Convento. Além dos padrinhos, eu e Raul, mamãe, papai e D. Rosa tambem estavam lá. Passamos o mês aqui antes de voltar. Lucana já estava com quase dois meses e fui conhecer o Sr. Névio, pai de Raul, que ainda não conhecia. Ele estava com problema de saúde, gostei muito dele e senti não conviver mais com ele. Ele deu um cordão de ouro para Luciana. Isto foi em julho, no dia 28 de agosto ele faleceu. Neste dia, quando recebi a notícia, não tive jeito de avisar Raul, ele estava viajando por Airuoca e Baependi. Quando chegou à terde e soube, sentiu muito pois não tinha avião em Cambuquira e não dava para vir ao enterro.

Nesta época, Neusa, a irmã de Raul, estava passando uns dias com uma colega lá em casa. Os cunhados com os filhos e esposas foram passar uns dias pois tinham folga por causa da morte do pai. Para variar chegaram de surpresa e eu sempre preocupada com a comida. Tinha bastante bacalhau em casa e até agora não sei como consegui tirar o sal e fazer para o almoço. Foram dias muito bons com a presença deles. Anna e Névio, gostaram tanto da Luciana que chegando à São Paulo encomendaram Nevinho.

Nossa vida corria tranquila, apesar das visitas que não paravam! Ninguém ia sozinho e a casa estava sempre cheia, o que não me incomodava, sempre gostei de visitas.

No final do ano, Raul foi à Vitória fazer as provas para a faculdade de Direito, quando passou em frente a loja Doll gostou da roupa da vitrine e comprou para me dar de presente. Era um vestido creme de linho justo com um colar de cristal com várias voltas e verde, uma bolsa caramelo e o sapato escarpim combinando. Sempre gostei muito de roupa mas este conjunto acho que foi uma das roupas que mais gostei e usei muito.

Madrinha foi à Cambuquira com Regina e Ralph. Pela manhã, íamos para o parque das águas, enquanto as crianças brincavam, aproveitávamos para conversar. À tarde, passeávamos de charrete e íamos até a fonte do Marombeiro, que ficava um pouquinho longe, mas tudo era novidade e as crianças aproveitavam. Num domingo cedo recebemos a visita de Luiz, Gláucia, os dois filhos, Vilma - a prima de Glaucia - e Mequinho. Eles estavam em Caxambú, que é perto de onde morávamos, foram passar o dia mas passaram uma semana. No hotel tinham comido uns quibes (menos Luiz, ainda bem que não comeu) e começaram a passar mal. Era um corre-corre sem fim para o banheiro! Luiz não sabia mais que remédio comprar, foi à Caxambú buscar roupa e voltou correndo para ajudar. Melhoraram mas custou, ficaram muito fracos e assim passaram uns dias. Encontrei Vilma quarenta anos depois, ela só falava naquele sufoco que passamos.

Quando Raul viajava, ás vezes eu ia, apesar de ficar mais dificil, pois agora tinha dois filhos e tinha que levar uma ajudante. Foi em uma destas viagens que conheci Sr. Júlio e D. Maria, nos recebiam com a maior alegria. Na casa deles se tomava café pela manhã, às nove tinha um lanchinho, ao meio dia almoço, às quatro, outro lanche, jantar e à noite mais café. Ela fazia umas quitandas deliciosas, como se diz em Minas. Conversávamos tanto que não dava vontade de ir dormir. Depois que mudamos para São Paulo viemos visitar várias vezes, passamos Carnaval e viemos para os casamentos das filhas, por sinal fomos padrinhos do casamento de uma delas. Sr. Julio e D. Maria viveram muito, eles casaram muito cedo fizeram 70 anos de casados, o que é bem dificil de acontecer.

Mamãe foi passar o aniversario de Raulzinho lá em casa, como Cambuquira era um lugar de veraneio, muitas casas ficavam fechadas o ano todo, conheciamos pouca gente. Fiz os doces para o aniversário e convidei os filhos da minha lavadeira, os filhos do jardineiro e os irmãos da babá de Luciana. Comprei chapeéu, muita bola colorida e fiz o bolo. As crianças chegaram com roupas simples mas muito limpinhas, depois de brincarem bastante fomos cantar parabéns. Quando acabou não se via nem uma mãozinha pegar doce na mesa, só comiam se mandássemos, mamãe ficou admirada com a educação delas.

Quando Luciana tinha um ano e três meses mudamos para São Paulo. Pensei que fosse estranhar muito mas gostei de lá e me adaptei logo. Raul comprou uma casa no Alto do Mandaqui, Anna e a irmã dela, Nilde, foram me ajudar a arrumar tudo. Na hora do lanche, Nilde se ofereceu para comprar pão, eu fiquei admirada pois eu não entrava em bar, mas acabei me acostumando. Em agosto fiquei grávida de novo, como sempre enjoando muito.

Nevinho era neném, Anna e Névio arranjaram uma caas ao lado da nossa, foi bom demais. Raulzinho, Luciana e Rosana brincavam o dia todo e raramente brigavam. Raul e Névio conversavam muito pouco um com o outro. Todas as noites eles vinham ver TV lá em casa ou nós íamos à casa deles. Eu e Anna conversavamos baixinho para não atrapalhar, sempre tínhamos o que contar e é assim até hoje. O assunto não acaba e sempre fica faltando coisa para contar.

Tìnhamos o cotume de colocar as crianças para dormir cedo. Quando Raul chegava, já tinham jantado, era só ir para a cama, onde eu dava boa noite em francês, inglês, em italiano e mais uma língua, acho que era alemão. Quando Monica estava para casar disse que ia telefonar para eu dar boa noite de costume.

Antes de sair de Cambuquira arranjei uma menina que os pais estavam dando, era Gracinha. Quando chegou ficava parada, encostada na porta da cozinha e não ajudava em nada, me aconselharam dar um vermífugo, foi ótimo, ficou esperta e prestativa.

Difícil mesmo era quando sabíamos da vinda de D. Rosa ou Neuza. A faxina começava e, tanto eu como a Anna, procurávamos deixar a casa um brinco mas não adiantava. Quando chegavam tinha sempre alguma coisa para elas falarem, principalmente perto dos maridos, para eles terem motivo para reclamar. Quando os filhos saíam com elas, sem levar as mulheres, era a glória para elas.

D. Maria, tia de Raul, arranjou uma menina do juizado para ficar lá em casa, não gostei da cara dela mas coloquei as duas no colégio, perto de casa, e lá tambem estudaram para fazer a primeira comunhão. Enquanto Gracinha era caprichosa, a outra era um arraso, ficou lá em casa, apesar dos aborrecimentos, até fazer dezesseis anos. Gracinha aprendeu corte e costura, fez um curso de gastronomia, quando saiu para morar sozinha dei minha máquina de costura para ela. Veio nos visitar aqui em Vitória, depois não deu mais notícia, apesar de eu procurar por ela quando voltei a São Bernardo.

Raulzinho e Rosana estudavam no Colégio Santana, voltavam de ônibus. Vendemos o jipe e compramos um chevrolet 38, era um carro que só dava duas pessoas dentro, fora tinha um banco como se fosse no bagageiro onde cabia mais uma pessoa. Américo e Arlethe vieram à SP nos visitar, foi muito engraçado, Arlethe dentro do carro comigo e Raul e Américo, ricão do jeito que era, lá atrás. Todo mundo mundo olhando pois era mesmo diferente.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Recordações perdidas mas não esquecidas

Quando eu tinha uns nove anos precisava extrair um dente. Fui ao consultório, tomei a anestesia e lembrei que não tinha avisado à mamãe que iría ao dentista aquele dia. Fechei a boca e não deixei o dentista completar o que estava fazendo, ele insistiu que eu já havia tomado a anestesia, mas fui para casa e fiquei quietinha sem falar nada. À noite, o dente começou a doer, tive que falar o que tinha feito. Levei um brigueiro e no dia seguinte tive que extrair o dente. Fiquei traumatizada e comecei a ter medo de ir ao dentista.

Quando morava em Vitória, precisei tratar um dente com Dr. Moacyr Lofgo. Papai precisou ir lá no consultório e quase me deu uns tapas para eu abrir a boca. Abri, mas me contorcia tanto que presaram me segurar à força. Agora já passou, Dr. Márcio está de prova que sou quietinha na cadeira do dentista.

Papai sempre acordou muito cedo. Fazia uma meia hora de exercício em um terraço do lado do meu quarto e tomava banho frio, tudo acompanhado por musicas caipiras. De tanto ouvir e por me fazer lembrar dele, até hoje ouço e gosto muito! Brega ou não, sou um pouco caipira mesmo.

Odete, antes de Silvino, namorou um rapaz muito bonito, de familia muito conhecida nossa, não deu certo. Sorte dela! O cara engordou tanto que perto de Silvino, que continua elegante, ia parecer casa da Banha. hahaha!!!

Depois que Arlethe morreu, Raul encontrou o fã que subia a ladeira à meia noite assobiando...ele disse: "se ela tivesse casado comigo garanto que estaria viva". Foi uma fatalidade, aconteceu e nada faria mudar isso.

Um dia, dormi na casa de Dulce e Milton e me assustei quando, na hora do cafe da manhã, milton, para fazer Rita tomar todo o leite, apertava a boquinha dela - igual papai fazia quando tomavamos óleo de Rícino - e ia dando o leite à força. Ele dava e ela cuspia, ele acabou desistindo.

Quando estávamos em Guarapari, íamos ao menos uma vez Praia do Morro. Era um dia especial. Arrumávamos a maior farofada e ia a família toda. Saíamos bem cedo de casa para atravessar para Muquiçaba. Não tinha ponte, quem chegava ou saia de Guarapari tinha que ser de balsa ou de barco. Os barqueiros e a balsa só ficavam no cais até as dez. Já viu, quem chegava atrasado não tinha como atravessar! Andávamos do cais até a praia do Morro, não tinha quase casa nenhuma. Quando chegávamos lá era uma delicia, catávamos galhos de árvore para fazer sombra, não se vendia barraca de praia, nem sabíamos o que era isto. Colocávamos nossa roupa sobre os galhos secos e era só diversão. Foi lá que com três anos quase morri afogada, eu achava que podia enfrentar as ondas e me dei mal. Ficávamos lá até as duas ou três horas, a praia completamente deserta... Uma vez passava dois pescadores que estavam seguindo andando até Perocão, a praia seguinte, não conseguíamos ver o final da praia do morro e eles andavam aquilo tudo até chegar em Perocão. Voltávamos tão cansados que nem sorvete queríamos ir tomar à noite, mas valia a pena todo cansaço!!!!

Quando chegavamos na praia, eram quatro moças e eu, a raspinha do tacho, só se ouvia: "chegaram as Zorzanellis". Assim acontecia quando chegavam as "Gianordolis", só que as meninas lá de casa eram mais bonitas. Quando comecei a namorar com Raul, ele dizia que eu tinha um corpo bonito, eu dizia para ele que era porque eu usava cinta. Um dia estávamos perto do Siribeira, eu de saída de praia e ele resolveu tirar um retrato, fiquei só de maio e o queixo dele quase caiu!!! Disse para mim, "você não disse que usava cinta?", e eu falei: "e voce acreditou?", foi uma surpresa boa!!!

Quando casamos minha cintura era 56, era muito magra. Dizem que a mulher, depois que casa, se ela engirdar um quilo por ano, não é aconselhavel. Tenho 56 de casada, já viram que eu abusei!!! Ele media com a fita métrica todo mês para ver se eu estava engordando muito por causa da gravidez. Até pouco tempo ele tinha esta agenda que, sinceramente, preferia não ver. Mas os cupins deram conta das anotações dele. Ele anotava tudo e é assim até hoje! Anota o que comprou, o que vai comprar, quanto gastou faz um orçamento do mês... eu não quero nem saber, não anoto nada, não vou lembrar para que anotei e nem vou ler, prefiro deixar o barco correr.

Antes do nosso casamento, um colega dele casou. Este colega também foi trabalhar em Colatina, como também uma de minhas amigas de Vitória. Íamos fazer vizitas e receber também. Uns vinte anos depois, quando voltei para Vitória, fizemos uma sociedade e abrimos uma boutique mas, como Raul trabalhava como chefe da cobrança, o Banco implicou e sai da loja. Foi um tempo muito bom, minhas filhas já estavam grandes e ganhavam muita roupa bonita que trazia das viagens. Eu saia cedo de casa geramente ia pelo aquaviário, ficava na loja pela manhã e minha sócia à tade.

Raulzinho quando nasceu era igual a um boneco que eu tive quando era criança. Muito esperto, com cinco meses não ficava um minuto sentado no carrinho, ia em pé perecendo um prego, por mais buracos que tivesse na rua, ele segurava no ferro da frente sem sentar. Um dia depois que estávamos morando em Cambuqui, ele acordou depois do sono da tarde e resolveu pintar todo o berço com sua própria sujeira. Quando cheguei no quarto, ele estava quietinho mas não tinha jeito nem de pegar para levar para o banho. Pior depois foi lavar o berço e deixar ele cheiroso como sempre. Se ele acordava e queria sair da cama - o berço dele era aquele modelo Faixa Azul, que era a ultima moda em berço, presente de papai e mamãe, era branco com capitonê azul na cabeceira e nos pes - ele colocava as mãos na madeira e dava um impulso e caia em pe no chão. Tinha que ser vigiado, até quando dormia era um perigo.

Quando íamos de férias na casa de mamãe, na Praia da costa, tomávamos banho de mar ali em frente, onde era o chuveirinho. Os amigos iam chegando, Dr. Armando e Teresa, Jadir e Marize, Maria e Eugênio, Isa e manoel e as irmãs. De aperitivo, mamãe mandava caipirinha e uma panela de carangueijos acabado de cozinhar, era bom demais! Parecia que a praia era só nossa.

Quando eu estava grávida D. Rosinha, mãe de Raul, foi passar uns dias em nossa casa. Na hora do almoço era a hora do aborrecimento, ela queria que Raul me obrigasse a comer tomate, tudo o que eu não gostava, pois dizia que era bom para o bebê. Aquilo me irritava demais, eu que quando solteira só comia um bife com maçã aturar alguém me obrigando a comer o que não gostava e o pior que Raul concordava com ela, o que me deixava mais danada ainda.

Cléa casou antes de mim, viemos ao casamento em Colatina, fiquei admirada quando ela contou que o vestido de noiva dela foi costurado por ela. Diziam que dava azar, ela está bem casada até hoje. Teve três filhos lindos que não deram trabalho, todos gostavam de estudar e se deram bem na vida. Quando ela casou, não sei bem porque, o marido dela não ia muito com nossa cara. Apesar de morarmos, como ela, em Colatina, só íamos na casa uma da outra durante o dia. Agora somos todos amigos e nos damos muito bem.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Raulzinho está chegando e Luciana também

No dia que Raulzinho nasceu eu ia com Raul à Baunilha para ele fazer uma vistoria lá, mas como ele ia voltar antes do almoço, achou melhor eu ficar. À noite, ele chamou meu médico pera ver se tudo estava bem e quando Dr. Raul disse que eu devia ir para a maternidade, achei que ele estava enganado, mas ñão estava. Às tres e meia ele chegou. Enquanto Madrinha e Raul estavam vendo a enfermeira medir e pesar, eu lá na sala de parto, só ouvia Dr. Raul guibert perguntar se eu estava bem e virar a maca quase de ponta cabeça! Quando Raul voltou, o médico disse que eu havia tido uma hemorragia...e eu achando que tudo o que ele estava fazendo era o normal é isso que dá ser marinheiro de primeira viagem. Depois ficou tudo bem.

Mamãe e papai chegaram de Vitória e o batizado foi no hospital, me disseram que era bom batizar logo. Fui para casa, no quintal 37 frangos me esperavam para virar canja.

Quando eu viajava com Raul e ele ia fazer vistorias mais dias, eu ficava na casa de uma tia que morava em São domingos. Um dia, fiquei na casa de um fazendeiro e como não tinha banheiro dentro me deram um penico. Lá pelas tantas, Raulzinho precisou fazer o número dois e fez no penico. Quando perguntei a dona da casa onde poderia lavar o dito cujo, ela ficou brava por eu não ter colocado água antes de usaro penico... fiquei sem graça, mas como foi a primeira vez, não tive como adivinhar.

Raul ganhava muita fruta, aipim e tudo que é da roça. Enquanto ele corria a propiedade, eles colocavam as coisas no carro. Era bom! Quem gostava mais eram os vizinhos, pois tinha que distribuir.

À noite, para Raulzinho dormir era um custo. Alguém tinha que andar de um lado para o outro com ele no colo, sacudindo e cantando até ele pegar no sono. Quando tive os outros filhos fiquei mais esperta e acostumei logo a dormirem sozinhos.

Quando ele fez um ano viemos comemorar em Vitória, na casa de mamãe. Foi tudo muito bom, Raul voltou à colatina enquanto eu ficava mais uns dias na casa de mamãe, não voltei mais para minha casa.

Raul foi fazer uma vistoria, encontrou irregularidades e comunicou ao banco. Só que o mutuário teve acesso ao relatorio e queria matar meu marido. O banco transferiu ele para Minas Gerais e quem foi arrumar minha mudança, como sempre a que quebrava todos meus galhos, Madrinha. Em final de novembro fomos de mudança para um lugar desconhecido, com um filho de um ano e ainda por cima grávida de três meses.

A mudança foi na frente em um caminhão, tudo embalado com estopa, não tinha transporte em caminhões baú como agora. Saímos cedo daqui, a estrada era de barro e nós em um jeep, comiamos poeira direto. Quando chegamos no morro do Coco, Raulzinho saiu correndo e cortou o queixo. Depois paramos em Campos para almoçar. Não lembro aonde paramos para dormir, acho que em Macaé. Seguimos viagem até Rezende, onde fiquei onze dias na casa do irmão de Raul, com um filho e uma empregada que levara daqui de Vitória. Raul foi adiantar o serviço e conhecer a casa que ele havia pedido a um colega para alugar. Voltou desanimado, achando que eu não ia gostar nem do lugar e nem da casa.

Quando cheguei em Tres Corações, que tem uma escola militar, só via soldados pelas ruas, achei muito ruim. A casa, nem se fala, tinha dois quartos pequenos, uma salinha, um banheiro e uma cozinha com um fogão de barro no canto da cozinha. Raul não deixou eu desembalar quase nada, só mesmo o escencial, pois disse que ia dar um jeito de não ficarmos naquela cidade. Minha sogra que ja morara em Minas disse que o povo era muito hospitaleiro que eu ia adorar.

Nenhum bar vendia água, não tinha comprado filtro ainda e pedi a minha ajudante que fosse com uma jarra pedir para uma vizinha dar água para Raulzinho, ninguém deu! Tive que ferver a água naquele fogão maravilhoso, esperar esfriar e jogar de uma jarra para outra para oxigenar bem.

Estávamos procurando casa em Cambuquira, uma estação de águas que ficava bem perto e que não atrapalharia o serviço no banco. Enquanto isso, o Natal se aproximava. Eu sozinha numa terra estranha, sem conhecer ninguém e tendo que mostrar a Raul que estava tudo ótimo. Sai, comprei um presépio, com as estopas fiz uma gruta no canto da sala, comprei os presentes de Raulzinho e para raul comprei todos os livros de Arsene Lupin que encontrei, nós gostavamos deste autor e encontrei uns dezenove. Passamos o Natal sozinhos, mas ele gostou tanto dos improvisos que arrumei que valeu.

Mudamos em janeiro para Cambuquira. Eu cada vez mais grávida arrumei as coisas na nova casa do melhor modo possível. A casa era uma graça, ficava no alto, tinha duas varandas, dois quartos com papel de parede, uma copa, um banheiro muito bonito e uma sala grande. O sr. que nos alugou tinha construido para o filho que ia casar mas o filho mudou para o Rio. Foi a nossa sorte! Tinha um gramado ao redor da casa todo rodeado de ginestra, uma planta amarela muito linda, atráz tinha um quintal grande onde Raul fez uma horta e passava horas se distraindo.

Como era Estação de águas, a cidade parecia uma festa, íamos ao parque das águas todos os dias e só bebíamos água mineral tirada na hora. Sempre que podiamos iamos ao cinema á tarde. Raulzinho era muito levado e sempre conseguia fugir para ir no parque buscar água. Era um perigo, quando víamos ele já estava longe.

Morar em estação de águas tem um perigo, todo mundo ia nos visitar e ás vezes passavam muitos e muitos dias. Um dia D. Rosinha mãe de Raul foi lá para casa, á tarde Raul ia jogar futebol no campinho e fomos assistir. começou uma discussão entre Raul e um carioca invocado. Eu, grávida de sete meses com Raulzinho para olhar e detestando brigas. Peguei o meu filho, chamei uma charrete, que era o meio de transporte dali, e fui para a casa. D.Rosa entrou no campo no meio da briga para defender o filho dela que parou até de brigar. Quando chegaram em casa as críticas começaram por eu não ter ido defender Raul... eu queria que alguém me protegesse e não entrar em uma briga. No dia seguinte, a briga continuou e Raul chegou com o tornozelo inchado por ter acertado o cara. Eu nem olhei para o pé dele, achei aquilo rídiculo!

Mamãe chegou para me ajudar quando Luciana nasceu. Quando Raul chegava, ela ficava no quarto com Raulzinho, pois sabia que ele queria conversar comigo e ela achava que atrapalhava.

Luciana chegou no dia sete de maio, três dias antes do dia das mães. Sai do hospital e no dia seguinte ganhei tanto presente lindo que Raul tinha comprado, fiquei toda contente! Raulzinho tinha pouco cabelo, mas ela tinha um cabelo preto e muito. Raul comprou um casaco lindo para mamãe era debruado com couro, ela gostou muito.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Retrospectiva

O que aconteceu com Acioli: lá passava a linha do trem que ia para Minas Gerais. Tiraram o trem, a cidade que já era pequena, saiu até do mapa. Herondina, depois de uns anos, saiu lá de casa, mas quando estava conosco teve uma pneumonia e colocaram sanguesuga nas costas dela, eu vi e foi horrivel.

Chico Eva, os filhos e Mãe Eva nunca mais os vi. Tia Dininha, sempre que eu estava em Vitória, vinha me ver. Continuei sendo a filha dela até quando faleceu, com mais de oitenta anos.

A casa de Colatina, soube que papai doou para a Igreja. A casa da Santa clara, papai vendeu para um senhor de Colatina que tinha uma rede de farmácias, depois foi vendida para a seita Muum, está lá, toda maltratada com os vidros quebrados.

Papai, depois que mudou para Vitória, aprendeu a dirigir para não entrar em outra padaria. Teve diversos carros: começou com um pequeno que a Fiat lançou, passou pasa o Plimout, craisle, fissore e acabou conm um volks quatro portas.

Mamãe sempre aquela pessoa querida que ajudava todo mundo, sempre fazendo biscoitinhos de natal, capeleti e tudo de bom que se pode imaginar. No Natal fazia as comidas que cada filho gostava, apesar de papai reclamar que ela não parava de trabalhar e ia se cansar. Mas ela, acho que era como eu, só cansava se tivesse aborrecimento.

Otto, já falei bastante dele, era mesmo uma figura. Se candidatou a deputado estadual e ganhou, continuou a cantar em todas as reuniões lá de casa a música "Giovane meu filho escuta, Giovane, filho querido, Giovane meu filho viuuuuuuuuuu, Geovane foi aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaPunhalado".Depois que ele morreu, ninguém acha mais graça de cantar.

Milton Simões, casado com Dulce, foi um dos cunhados mais queridos, todos gostavam dele. Era muito alegre e se dava bem demais comigo. Teve um problema de coração e também nos deixou.

Américo, marido de Arlethe, era uma pessoa que fazia tudo para agradar a mulher dele. Quando viajava, trazia roupas lindas e chiques para Arlethe, queria que ela andasse com o que havia de melhor. À tarde quando chegava do trabalho colocava os filhos pequenos no carro e dava voltas até eles dormirem, colocava na cama, só então ia jantar. Depois de José Roberto nasceu Mequinho, depois Cristina, Alexandre, Anginha e, por último, Carlos Augusto, que tinha só dois anos quando ela faleceu, esta é outra historia que vou contar depois. Todos os filhos nasceram em uma data especial o mais velho dia do trabalho, o segundo e a quarta no carnaval, aterceira no dia do natal, Alexandre, não tenho certeza, o último no mesmo dia da filha de Odete e do aniversário de Madrinha. Depois da morte de Arlethe, ele casou mais duas vezes, mas com 365 dias para morrer, foi morrer no dia do aniversario dela.

Silvino, casado com Odete, está firme e forte até hoje. Foi o melhor genro do mundo para papai. Além de respeitá-lo muito, foi aquela pessoa que enquanto papai ficou no hospital ia todos os dias visitar na hora do almoço. Até os últimos dias da vida de papai ele foi um companheirão e temos o maior carinho por ele.

Tio Tote, depois que mudou para Colatina, ficou morando com os filhos, Cléia era a que mais ficava lá em casa. O filho mais velho está bem e continua morando em Colatina. A filha mais velha mora no Rio, Cléia esta bem e, quando pode, vem tomar o café da manhã aqui em casa. Gualter, Nicéia e Neila já faleceram e deixaram saudade.

Denise, minha sobrinha mais velha, casou, depois de namorar muito e morar aqui em Vitória, tem três filhas, uma delas é minha afilhada,joana. Rita de Cássia namorou muitos anos, quando estava com o vestido de noiva encomendado e tudo pronto para casar, o rapaz desistiu. Ela, na época, ficou super triste, foi embora para o Paraná, refez a vida e casou com uma pessoa ótima, só tem um filho mas é muito feliz. Foi sorte dela aquele casamento não ter se realizado.

Telina, a única neta com o nome de mamãe, é uma amigona, além de minha afilhada. Adora ler, é muito competente em tudo que se mete, teve um casal de filhos Serginho e Daniele. Odete, depois do filho que não gostava de comer, ganhou Rosângela, Silvinha e Juninho, todos muito carinhosos e amigos.

Arildo casou com Regina, uma menina que morava em frente a nossa casa na rua Thieres Veloso. Depois de 22 anos de casado, separou e casou outra vez. Com Regina teve quatro filhos homens, Cláudio, Ricardo, Arildo e Luciano. Com Lucilia, só Carla. Morou no Rio na Baia e depois voltou para Vitória. Adora música, joga tênis até hoje, é amigo e muito querido.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Lua de Mel

Passamos o domingo descansando da festa do casamento. Segunda saimos para comprar um presente para a sobrinha de Raul que tinha nascido em SP. À noite fomos no trem Vera Cruz para São Paulo, chegamos bem cedo e fomos para a casa do irmão dele, na maior cara de Pau. Anna estava de resguardo, Rosana tinha sete dias de nascida, fomos muito bem recebidos e depois do café saimos para conhecer o Ibirapurera, sendo o final do quarto cantenário, ainda deu para aproveitar um pouco.

No dia seguinte, fomos comprar maiô e sandália, meus pés estavam com calos dos sapatos novos do enxoval, aproveitamos e fomos ver o filme de Brigitte Bardot, "Deus criou a mulher". Jantamos na casa da Anna, a mãe dela foi ajudar.

Fomos para Rezende para eu conhecer o resto da familia, eles cederam o quarto do casal para nó. No dia seguinte, às dez horas, bateram na porta avisando que o mundo não ia acabar(é que estava em todos os jornais que tinham profetizado que o mundo acabaria naquele dia, muito engraçadinho ele).

No dia 23 chegamos de volta em Vitória, passando o Natal fomos para nossa casa em Colatina. Estava tudo arrumado e eu não tinha visto ainda. Era perto do Rio Doce, passados uns dias Toninho, irmão de Raul, foi me fazer companhia, ele tinha doze anos e me ajudou a raspar o chão da sala com palha de aço pois estava com muita cera acummulada.

Logo que fiz um mês de casada comecei a enjoar, como minha pressão é baixa eu só queria dormir. Madrinha veio com Regina Dalva passar uns dias comigo, foi minha salvação! Raul chegava com um monte de carne, colocava em cima da pia e aquilo me apavorava, o que ia fazer com aquela carne toda? Pedi socorro e madrinha logo resolveu tudo.

Quando eu e Raul chegamos em casa, eu não sabia nada de cozinha, nem colocar água para ferver. Raul fez arroz e salsicha, as louças não tinham chegado e comemos em pires, o que foi engraçado. Minha geladeira e meu fogão eram à querosene. estavam sempre entupindo, mas tudo acabava dando certo.

Depois que fiquei sozinha pedia às vizinhas para me ensinar como fazer carne assada, ensopada e tudo. A empregada perguntava como eu queria a carne, eu ia na vizinha, ela ensinava e eu passava para ajudante e saia rápido da cozinha antes que ela me perguntasse mais alguma coisa.Vóvo Maria faleceu quando eu estava grávida de seis meses, nossa casa na Santa Clara ficou mais vazia.

Antes de eu casar papai me ofereceu um Karmamguia, que tinha sido lançado naquele ano, como eu era a companheira de viagem de mamãe, ele queria que eu demorasse mais como solteira, mas eu não quis, queria mesmo era casar! Mamãe estava sempre ajudando as filhas. Quando chegava mais um neto, Odete deu à luz a Rosângela em abril e Raulzinho nasceu em fim de agosto. Mudamos para uma casa muito melhor, quando Raul viajava, ele era fiscal do Banco, sempre que podia eu e raulzinho íamos junto, o que era sempre divertido. As viagens eram de jeep comíamos muita poeira mas estava tudo bem.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Noivado

Um dia, Raul me perguntou quanto tempo eu esperaria para casar com ele, disse que uns quatro anos, ele achou muito! Fiquei apavorada, quase acabei o namoro, não pensava em casar, só queria namorar. A mãe dele e a irmã nunca foram muito com a minha cara mas tinham que me engolir (e eu a elas).

Em outubro de cinquenta e tres ficamos noivos, eu tinha ido ao Rio com Arlethe e comprei várias roupas, inclusive a que usei no noivado. Era um vestido de popeline amarelo dourado com uma estola era lindo mesmo.

Um dia a mãe de Raul telefonou que estava indo lá em casa com as irmãs dela. Eu fiquei apavorada pois mamãe estava viajando e eu não sabia o que servir. Lembrei que havia dado naqueles dias uma máquina de fazer weifel e lendo a receita consegui fazer vários e servi com geléias e mel, elas adoraram e eu me safei dessa.

Eu e Raul namorávamos sentados na mesa da sala de jantar. Papai ficava na sala de estar ouvindo música e mamãe fazendo crochê e nos vijiando. Eu falava: "eu não importo se a sra. ficar nos olhando o tempo todo, mas ouvir conversa de namorado é muito chato". Mas não adiantava , aproveitávamos um pouquinho quando ela ia fazer um cafézinho. Às dez horas papai começava a fechar as janelas, era o sinal para Raul ir embora, não podia levar o namorado ou noivo na varanda. A despedida era sempre com papai olhando.

Mamãe começou a providenciar o meu enxoval. Foi lindo, o que havia de melhor. Nossos móveis de quarto foram comprados de Dr. Benjamim, irmão de Américo, são de jacarandá e estou com eles até hoje.

Faltavam dois meses para o casamento, eu e mamãe fomos ao Rio para comprar e encomendar as coisas que faltavam para o casamento. Deixamos o solidéu, o buquê - meu e da dama de honra, os pavês que seriam do tamanho de uma empada para servir na festa tudo encomendado. O nylon estava chegando no Brasil, dei sorte, conseguimos comprar camisolas lindas de nylon plissado com o quimono combinando (destas Raul gostou!). Ganhei de noivado um par de brincos de ouro, era uma concha com uma pérola dentro, gostei muito e tenho até hoje.

De casamento, dei um relógio Cyma e ganhei um anel em forma de flor com um brilhante no centro. Tinha cabelo comprido, abaixo do ombro,faltando uma semana para o casamento mandei cortar pois sabia que o modelo da cabeça do vestido de noiva tinha que ser assim. Tirei uma fotos antes, cortei o cabelo e tirei outra depois tudo no Paes um fotografo muito bom que tinha o estudio perto do parque moscoso.

Quando casei ninguem ia à cabelereiro arrumar o cabelo, só cortávamos. Foi assim no dia do casamento. Meu casamento estava marcado para às seis e trinta, chovia demais, Raul chegou na Igreja e telefonou para eu esperar ele ligar pois todos os casamentos estavam atrasados. Entrei na Catedral achando que estava sonhando e que não era meu casamento, estava me achando a pessoa mais calma do mundo, mas minhas amigas disseram que parecia que o buquê ia cair da minha mão.

Minha dama foi minha melhor amiga Julieta, ela estava linda e feliz como eu. Os presentes foram tantos que não sabiamos aonde colocar, Jarras de cristal ganhei umas quarenta cada uma mais linda que a outra, jogos de taças para sorvete de prata ganhei uns quatro conjuntos, abajour uns oito e por ai vai , jogos de chá e de café, tudo muito lindo.

De mamãe ganhei a máquina de costura e o aparelho de cristal.Da mãe de Raul ganhei um livro de receitas de Helena Sangirardi, ela disse que tinha medo de Raul passar fome pois eu não sabia cozinhar, foi a minha salvação até arroz ; café tudo aprendi com aquele livro tenho ele até hoje. Esqueci de contar que Raul ficou aqueles meses ausentes quando nos conhecemos não foi porque detestou meu nome foi passar uns meses em São pualo onde mandou fazer ternos novos, só
quando voltou e começamos adansar que falei meu nome de verdade. Depois do casamento a festa foi la em casa era tanta gente que mamãe esqueceu de servir seis perus assados e os pavês ficaram esquecidos na geladeira. Odete estava esperando sua segunda filha Rosangela, Regina Dalva estava com um ano e seis meses. Iamos viajar no mesmo dia para o Rio telefonaram do aeroporto não teria voo aquela noite por causa da chuva,´papai falou que Raul ia dormir na casa dele e eu la em casa , comecei a chorar e D. Rosa achou muito feio eu estar chorando por causa disso, falei que esperei dezenove anos e não queria a primeira noite de casada sozinha. às duas da madrugada saimos de Vitoria, o tempo melhorou Americo foi nos levar aaeroporto. Chegando ao Rio fomos para o hotel que estava reservado mas tinhamos esquecido de levar a certidão de casamento mas como quando solteira papai se hospedava la e eu tambem eles abriram uma ecessão . Depois conto o resto.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Começo de namoro

Depois do baile do final do ano começamos um namoro meio escondido. Fomos para guarapari e quando dava ele ia e nos encontrávamos.

Em fevereiro, papai precisava ir à Argentina à negocio, quis que eu e Mamãe fossemos também. Ficamos quarenta dias lá. Enquanto papai ia trabalhar, eu e mamãe com a mulher do agente da firma faziamos compra e visitávamos as cidades vizinhas. No final, já não aguentava mais, queria ir para casa. Voltamos para o Brasil no mesmo navio que tinha ido para a Itália, foram cinco dias ótimos. O navio era mesmo uma beleza. Cheguei cheia de roupas e sandálias novas.

No dia de Santo Antônio, durante a procissão, encontrei Raul, dei uma caneta com o nome dele gravado e ele me deu um tercinho de prata e um anel de tartaruga com meu nome na chapinha e o dele por dentro. Tenho até hoje, mas o terço levei quando fomos à Guarapari e não conseguia achar onde tinha guardado mas depois achei. Rita, a segunda filha de Dulce, tinha uns dois anos, ela quebrou o tercinho e para esconder, colocou dentro do maiô dela, não teve concerto e nem adiantava brigar, ela era muito pequena e não fez por mal.

Quando eu estava fazendo aula de corte e costura às vezes faltava a aula para ir ao cinema com o namorado, era no Vitorinha, um cinema que tinha em frente a casa da professora. No final do ano ainda namorávamos escondido, combinei de encontrar Raul para dar uma volta na praça, mas era dia de natal, fui experimentar o wisque de Arildo e fiquei tão ruim que não fui ao encontro e ficava chamando Rauuuuuuuuuuul. Uma vergonha! Em fevereiro, Raul fez concurso para o Banco do Brasil e passou em segundo lugar. Eu estava na aula de corte, em Agosto, quando saiu o resultado e ele foi me avisar. Na semana Santa deste ano ele foi lá em casa pela primeira vez para começar a frequentar nossa casa, dai em diante só namorávamos no final de semana quando ele vinha de colatina, onde estava trabalhando.

Eu e Arildo sendo, os dois filhos que restaram em casa, ficamos cada vez mais amigos. Quando não saíamos, ficavamos jogando xadrez ou qualquer outro jogo, não tinha tv e ouviamos rádio ou eletrola. As ajudantes lá de casa faziam tudo para me agradar,levavam lanche no quarto toda a tarde e tiravam fotos de mim experimentando todos os meus vestidos, inclusive os de Baile e os maiôs também!

Vóvo Maria

Vóvo Maria foi a única vó que conheci. Vóvo Cóta, a mãe de mamãe, só por retrato. Ela passava alguns meses do ano lá em casa, era quando fazia todos os exames. Vinha mesmo sem gostar muito, o que ela gostava mesmo era da roça. Neste tempo que passava em casa guardava tudo que ganhava para levar para Colatina: latas de biscoitos e chocolates. Ela era um pouco gorda e não sabia ler, ainda não existia tv, ela ficava sentada vendo os outros trabalharem. Ali não era a praia dela e lá em casa tinha três ajudantes. Toda noite queria jogar bisca e procurava parceiro, mas eu era a única que jogava ás vezes. Ela embaralhava o baralho e dizia que fazia "camacho", um truque para as cartas boas ficarem com ela.

Quando tocava o telefone, vóvo falava me dá uma vontade de "churar".... ela falava meio italianado e na casa dos outros filhos todos a chamavam de Nona, Mamãe tratava ela por mãe como era o costume italiano. Morreu depois que eu estava casada, teve um problema de coração. Quando fomos arrumar as coisa dela para mandar para colatina encontramos latas de biscoitos que tinham virado pó de tanto tempo que estavam guardadas. Foi enterrada em Vitória. Mas como o desejo dela era ser enterrada em Colatina, alguns anos depois, papai mandou colocar os ossos em uma caixa para ser levada para lá. Quem levou foi Otto, quando o trem chegou na estação, em Colatina, ele desceu, mas esqueceu a caixa. Quando já estava saindo Otto gritava "espera um pouco os ossos de minha vó estão no trem", todo mundo ria! Colocou a caixa sobre o guarda roupa para ser levada para a casa de Tio Vitório no dia seguinte, mas madrinha disse que não ia dormir com vóvo em cima do armário e levaram a caixa no mesmo dia. Tudo virava motivo de gozação.

Quando acabei o Ginásio não continuei os estudos. Lá em casa quem estudou mais foi Odete que fez o normal e acho que desaprendeu o pouco que tinha aprendido no colegial e Dulce, que sempre foi a mais inteligente, fez o classico, que era como o cursinho. Aqui em Vitória só tinha a faculdade de direito, onde Américo e Raul se formaram. Quem fazia outra faculdade tinha que ir para o Rio, Arildo fez engenharia lá.

Fui aprender prendas domésticas, comecei a bordar com D. Cora, ficavamos sentadas na varanda da casa dela e tinhamos que levar tarefa para casa, eu gostava. Qualquer folguinha que tinha ficava no meu quarto lendo sem parar, era o que eu mais gostava de fazer. Uma vez fui no Empório e comprei vinte e cinco romances de uma vez, papai nem percebeu quando pagou a conta, achei ótimo! Comecei a aprender Corte e Costura lá na capixaba. Era bom porque assim tinha motivo para sair de casa. Estes aprendizados me valeram para a vida toda e estão valendo até hoje, pois bordo para uma creche.

Durante as aulas de bordado, além de diversas outras coisas, bordei dez camisolas para meu enxoval de cambraia de linho. A primeira vez que usei, Raul falou que só gostava de camisola que escorregava, como cetim ou naylon. Minha decepção foi grande, engavetei as camisolas que depois viraram camisinhas e camisolas de bêbe.

Eu e Cléa sempre iámos nos bailes do Saldanha. Um dia o rapaz de terno branco, como era chamado, tirou Cléa para dançar enquanto eu dançava com outro rapaz. Nós davamos sorte, muitas meninas tomavam chá de cadeira e nós estavamos sempre sendo tiradas para dançar. Depois de dançar com Cléa, ele me tirou e foi logo perguntando o meu nome, o que eu não gostava, quando dançava a primeira vez era quando a pessoa ficava querendo conversar. Disse que meu nome era genoveva, ele ficou calado, quando a música parou ele foi perguntar a um conhecido meu se este era mesmo o meu nome e o amigo falou todos chamam de Heny mas acho que o nome dela e este mesmo. Depois disso nunca mais vi o rapazinho de terno branco, isto foi em agosto. No último semestre do colégio teve um retiro e lembrei que uma das minhas colegas era amiga do tal rapaz fui perguntar o nome dele e descobri logo... Em dezembro recebiamos montes de convite de formatura, como sabia que ele estava fazendo contabilidade procurei e achei o nome dele em um convite, fui a formatura, chamaram o nome dele mas ele não apareceu, fiquei decepcionada. Neste semestre teve uma grande festa no Palácio Anchieta, como ninguém lá em casa quis ir, fui com Arlethe e Américo. Mandei fazer um vestido lindo de tule e renda guipir, comprei uma estola de pele na D. Abigail, uma senhora que so vendia coisas boas, e fui para a festa, que por sinal não foi grande coisa, a mãe do governador havia morrido três dias antes. No reveillon deste ano, 1951, fomos ao baile com Arlethe. Eu, com meu vestido lindo, vi o tal rapaz que não estava de terno branco mas muito elegante com um terno escuro, começamos a dançar e estamos dançando até hoje, ás vezes na corda bamba, mas vamos indo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Lembranças que ficaram no caminho

Madrinha já era casada há uns doze anos e não tinha nem um filho, depois de fazer vários tratamentos sem ter sucesso, estava desistindo...e foi quando Otto conheceu um médico alemão que estava aqui em Vitoria e ensinou um tratamento fácil e que deu certo. Colocar água morna em uma bacia com uma quantidade de sal e ali ficar sentada por um tempo. Regina Dalva nasceu (por sinal é minha afilhada) e depois veio Ralph que é meu cumpadre. Depois destes dois, ela resolveu que já chegava de filhos. Veio morar perto de casa, na ladeirão, que para mamãe foi ótimo, por ela todas as filhas moravam pertinho.

Quando morava em Colatina ia passar alguns dias na casa do irmão de papai, Tio Vitório. A vida deles era bem diferente da nossa, acordavam bem cedo, iam para a roça e voltavam às nove horas para almoçar, geralmente era carne de porco que ficava guardada em uma lata de banha pendurada em um arame para que nem um inseto entrasse. Tinha sempre uma panela de ferro grande cheia de polenta que havia ficado no fogo desde cedo. Vóvo Maria, mãe de papai, lembram que ela tinha um machucado na perna? Ficou quarenta anos para sarar, só sarou depois que fez uma promessa de trazer para nossa Senhora da Penha uma perna de gesso, e ela trouxe. Virava aquela polenta sobre uma tábua e cortava as fatias com um cordão que ja estava amarrado na tátua, colocava umas fatias de queijo fresco por cima e um pedaço de carne de porco ou frango ensopado. Era uma delícia!

Na propriedade deles tinha muitos gansos e tudo que você elogiasse eles diziam: quer para você? Eu aceitava mas ficava tudo lá, não tinhamos aonde colocar. À noite, vovó afofava os colchões feitos em casa, cheios de palha de milho, quando a gente deitava fazia até barulho de palha amassando, mas era uma delícia.

Papai ajudava bastante, mandava móveis, um saco de trigo por mês, pois o pão era todo feito lá. Eram poucos os dias que passavamos lá mas sempre nos divertiamos muito.

Madrinha e Otto ficaram casados quarenta e seis anos, ele ficou com um problema na garganta, ficou doente quase dez anos. Papai dizia que era culpa dela ele viver tanto pois ela tinha o maior cuidado com ele. Enquanto isso, ela dizia que tinha descoberto a cura do câncer, fumar muito, tomar wisque barato, ela aguentou a barra até o fim..Por muitos anos sustentou a casa enfrentando todos os problemas, nem por isso ficou uma pessoa amarga. Quando ela estava esperando Regina estávamos todos da familia lá, inclusive eu que ja estava noiva, Raul tinha um jeep. No primeiro dia do carnaval os cunhados, Miltom e Silvino, combinaram se um fosse sozinho, os outros iriam, mas só se Otto fosse também. Ninguém acreditava que ele fosse, mas acabaram indo. Madrinha obrigou Raul a levar ela no jeep até o Siribeira quando parou o carro ela com cinco meses de gravidez saltou rapidinho e pela janela pediu alguem para chamar Otto ele veio todo sem graça pois os amigos dizia a rádio patroa chegou! Ele só no "Dalvinha calma" mas ela não quis saber de nada disse se ele não fosse embora ela que estava de quimono ia levantar a saia e mostrar atodo mundo que estava sem calcinha. Dojeito que ele era ciumento pediu só para pagar a conta para poder ir embora. Precisava ver, no dia seguinte a cara de Odete e Dulce, mas como sempre tudo acabou em gozação com Otto.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Novo amor

A tarde, quando alguém precisava de alguma coisa, eu ia comprar e aproveitava para ir ao Empório Capixaba, onde tinhamos conta. Eu aproveitava e comprava meus bibelôs e livros, pois meu maior divertimento era ler até de madrugada. Para ninguém saber que a luz do quarto estava acesa, pendurava um pano na maçaneta da porta.

Nunca fui uma aluna muito dedicada, só estudava nas provas. Como papai não olhava as notas, dava para enrolar todo mundo. Como não gostava de estudar, nos dias de prova dizia que estava com dor do lado direito e que a perna repuchava, que era apendicite. Mamãe não perdeu tempo e nas férias de julho tive que operar, ainda bem que estava inflamado mesmo, apesar de eu nunca ter sentido nada.

Madrinha estava morando em Curitiba e passando muito aperto financeiro. Ela se casou em 45, Dulce e Arlethe em 48 e Odete casou com Silvino em 51. Casou em maio, foi morar no final da Capixaba. Sempre muito dengosa, seu primeiro filho, Carlos Eduardo, não queria comer, ela arrancava os cabelos e não sabia o que fazer mas ele está forte e saudavel até hoje. Eu e Cléa, a filha de Tio Tote que morava lá em casa, sempre saíamos juntas para missa na Catedral, depois íamos na domingueira do Saldanha onde dançávamos até as doze horas. Quando tinhamos a companhia de alguma irmã casada, íamos aos bailes. Foi ai que conheci um rapaz que só usava um terno branco e estou até hoje com ele.

Papai tinha conta em várias lojas em Vitória: Empório, Baby Capixaba, Casa da Seda e outras. Mamãe telefonava e dizia o que precisava e eles mandavam pilhas de sapatos para que escolhessemos em casa. Quando tinha alguma filha noiva, o que sempre tinha, a Casas Franklim, da Vila Rubim, telefonava avisando que tinha chegado linho Belga e as peças que estavam encomendadas iam logo lá para casa.

Internato no Rio

Em quarenta e oito fui para o Colégio Regina Coeli, no Rio, se pudesse escolher não iria, mas não teve jeito. Era um Colégio muito chique, no Alto da Tijuca. Quando passava do portão para entrar tinha umas palmeiras de um lado e do outro. Como ficava no alto, tinha um bondinho do próprio Colégio onde pudiam subir uma dez pessoas. Era só entrar apertar a campanhinha que ele subia. Na primeira noite que passei lá, as Madres mandaram todas as alunas novas arrumarem as camas. Eu arrumei mas não ficou como elas queriam e tive que fazer mais umas duas vezes até acertar, isto com a ajuda de uma aluna antiga. Fomos jantar e depois de rezar nos sentamos em mesas de seis lugares, cada aluna tinha seus talheres, copo, guardanapo, tudo marcado com seu número, o meu era 245, não esqueci. Cada aluna tinha seu lavatório individual, sob a pia em um armário tínhamos que ser artistas para arrumar tudo o que fosse nosso que iriamos usar durante a semana.Recebíamos dois uniformes, três combinações, seis calças, duas camisolas, seis meias, toalha de banho,de rosto, chinelo, escova de dente, de cabelo, sabonete, pasta e papel higiênico. Tudo guardado neste armário que era inspecionado dia sim, dia não.

Quando chegávamos no lavatório era uma corrida para ficar na fila do banheiro, tinhamos pouco tempo para tudo e trocávamos de roupa sem poder mostrar o corpo. Quando a Madre dava o sinal, tinhamos que estar prontas para ir para o dormitório. Ninguém podia ter espelho, quem levava era logo recolhido e sumia.

Enquanto eu estava na Tijuca, Arildo, meu irmão, estudava interno no Santa Rosa, Colégio Salesiano. Falando em Arildo, lembrei que uma vez, como ele era muito implicante com as irmãs, mamãe vestiu um vestido nele e ele teve que ficar junto com todas nós bordando, nós adoramos mas foi só uma vez.

Quando saia aos domingos e ia para a casa dos primos no Rio ia de barca visitá-lo em Niterói. Depois, conseguiram vaga para ele estudar no São José, que era vizinho do Regina Coeli. Iamos em casa sempre que tinha um feriado maior, ás vezes voltavamos em avião de carga para não perder aula.

Em junho, Dulce e miltom casaram, não fomos ao casamento por causa das provas de meio de ano. No final de julho do mesmo ano, foi o casamento de Arlethe e Américo, foi em uma quinta feira, às onze e trinta, Américo disse que o comércio fechou por causa do casamento deles.

Dulce deu a primeira neta, que nasceu no ano seguinte. Denise foi a primeira, depois chegou Rita e para encerrar Telininha, que teve este nome por causa de mamãe. O primeiro filho de Arlethe foi José Roberto e veio um atráz do outro, até completar seis. Dulce morou uma época em Governador Valadares, mas depois morou perto de casa e depois foi para maruípe, residir em uma casa própria, Moltom trabalhava na Vale sabia mais do que muito engenheiro formado.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vinda para Vitória

Em 1940 mudamos para VItória. Papai já era exportador de café e estava abrindo uma firma aqui. Fomos morar na rua Thieres Veloso, perto do Parque Moscoso. A frente do sobrado era para esta rua, o quintal dava para a ladeira D.Fernando.

Fomos matriculadas no Carmo, Arildo no Salesiano e Dulce preferiu o Colégio Americano. Madrinha já estava noiva, casou com Otto, apesar de meus pais não fazerem muito gosto. Otto gostava de jogar e papai, como detestava jogo, já viu, implicou!

Podiamos brincar em frente de casa. Na rua de trás passava o bonde que ia até Santo Antônio. Podiamos estar no maior pique, mas quando tocava a música do Repórter Esso, dando as notícias da querra, corríamos todos para perto do rádio, para saber as notícias. O trigo ficou racionado, papai encomendava pão de Cachoeiro onde ainda se encontrava o produto, comiamos pão dormido e nem reclamávamos.

Várias conhecidas de mamãe que moravam em Acioli moravam em Vitória e as amizades continuaram. Madrinha casou na Catedral, com um vestido de setim confeccionado por Madame Prado, a chic da época. Não consigo lembrar minha roupa, acho que não era grande coisa.

Papai comprou uma casa na Ladeira Santa Clara, era a casa mais bonita que eu jÁ tinha visto. Tinha três andares. Abrindo o portão de ferro da rua, subiamos uns oito degraus e tinha um platô com bancos e jardim. Depois de subir mais alguns degraus, chegávamos na varanda da casa. Esta varanda era arredondada, com duas escadas, uma de frente e outra do lado. O piso das salas era de taco em forma de flores e mosaicos, não tinha um taco retangular, todos formavam desenhos. No primeiro andar, além de outra varanda na lateral, tinha três salas: uma de estar, uma de jantar, a do piano e uma copa com uma cozinha bem grande com um fogão elétrico de seis bocas. No segundo e terceiro andar ficavam os quartos, banheiros e biblioteca. Logo que mudamos, papai chamou o Maia, o melhor fabricante de móveis de jacarandá, ele ia só tirando as medidas e fabricando jogos de quarto, sala de jantar, móveis para a primeira sala, além das cortinas e dos sofás, o que havia de melhor! A casa ficou uma beleza.

Continuamos a estudar no Carmo, apesar de um pouco longe, papai levava e na hora do almoço trazia todo mundo.

Madrinha mudou para Curitiba e mamãe ficava cheia de saudade. Dulce estava namorando Milton Simões e Arlethe estava de olho em um rapaz que morava na ladeira também. Ele era um pouco farrista e subia a ladeira quase meia noite assobiando. Papai não queria o namoro, levou Arlethe para o Rio onde ficou na casa de uns primos por três meses. Comeu o pão que o diabo amassou. Eles não eram de fazer muito tipo de comida, faziam mexido que nós nem conheciamos e ela não gostava e foi ótimo pois ela emagreceu e ficou muito melhor.

Todas as terças-feiras, os sócios de papai almoçavam lá em casa, era o dia do banquete. Cada semana um tipo de comida. Arlethe, logo que chegou do Rio, começou a namorar Américo que havia terminado um longo namoro.

Quando fiz exame de admissão para a primeira série ginasial, não passei(também, eu não estudava mostrava o boletim para papai, ele só olhava a nota de comportamento, se fosse dez, ele assinava sem olhar mais nada), fiquei danada da vida e quis ir estudar no Americano. Estudei um ano lá, foi ótimo, conheci muita gente boa e alegre.

Foi nessa época que comecei a namorar, ele morava em uma rua abaixo da ladeira e era um namoro muito bonito e inocente, mais de longe do que perto. Todas as manhãs, quando ia às sete horas para o colégio, ele estava na sacada da casa dele esperando me ver passar. Eu também esperava ansiosa por aquele momento. Era raro nos encontrar, às vezes íamos à matinê do Cine Glória, sempre com várias colegas.Sentávamos juntos, mas nem pegávamos na mão um do outro. Ele escrevia cartas lindas que lamento não ter conseguido guardar. O namoro era escondido, eu escondia as cartas que eram entregues por amigas, guardava tudo na última prateleira da estante atrás dos livros que eram pouco procurados, ninguém descobriria. Quando fui para o internato papai mandou pintar a casa e tiraram todos os livros e assim jogaram fora as lindas cartas de amor que eu guardava.

Um dia resolvi cortar meu cabelo eu mesma, cortava de um lado, ia acertar do outro e quando acertei estava com o cabelo tão curto que lá em casa todos me chamavam de sargento Verde, aquela moça que cortou o cabelo para entrar no exército. Fiquei um mês sem matinê. Em Maio de quarenta e cinco foi declarado o fim da guerra, a comemoração foi demais! Todos cantavam pelas ruas, parecia Carnaval.

Guarapari

Teve uma festa no clube Recreativo de Colatina para a eleição da rainha, é claro que, sendo a moça mais bonita, quem ganhou foi minha madrinha. (Estou repetindo o que escrevi ontem pois acho que perdi tudo por não saber fazer as coisas direito , me desculpem). Para a coroação, papai encomendou as duas toaletes, em Cachoeiro do Itapemirim, para uma modista famosa. Os vestidos vieram lindos, com bordados em missanga. Acho que foi neste baile que ela conheceu o futuro marido, Otto.

Uma vez por ano todos tinham que tomar um purgante. Éramos acordadas de madrugada e papai e mamãe nos obrigavam a tomar uma garrafinha de óleo de rícino, era ruim demais. Mandavam que segurassemos uma chave para não enjoar e voltávamos a dormir. Era, com certeza, o pior dia do ano.

Começamos a ir todas as férias para Guarapari. O pessoal amigo que ia contratava um ônibus, a viagem era pela estrada de Santa Teresa, era a única que tinha na época. Ás vezes, vinhamos de trem até Vitória e depois de táxi chegávamos lá. Papai alugava uma casa e passavamos dois meses lá. Ìamos a praia pela manhã, á tarde todas tinham que descansar, querendo ou não. Jogavamos Loto todas as tardes, sempre a dinheiro dado por papai, que não jogava mas gostava de nos ver divertindo. Tudo valia, duque ,trinca, quadra e o cartão cheio. Todos os dias comiamos peixe, sr. Agapito, um conhecido nosso, levava uma fieira de peixe acabado de pescar.

Um dia recebemos uma noticia de um irmão de papai, tio Venuto, ele estava sem andar e com problemas sem poder nem comer sozinho, todo entrevado.Veio passar uns dias conosco. Papai contratou um sr. para cuidar dele, todas as manhãs colocavam ele em um carrinho de pedreiro e levavam para a praia da Areia Preta, davam banho e enterravam por uma hora, depois de um novo banho era levado para casa. Quando fez quinze dias desse procedimento, titio estava indo andando sozinho até a praia, sarou e nunca mais sentiu nada.

Guarapari não tinha calçamento nenhum, só se andava de short e tamanco, era uma delícia. À noite, davamos uma volta na rua principal e depois todos sentavam no meio fio tomando sorvete. Sempre tinha serenata para madrinha, os fãs dela estavam em todas, podiamos ouvir mas abrir a janela não.

Como meu aniversario é em janeiro, quase não era festejado pois em casa alugada não tem coisas de acordo para festejar, é por causa disso que gosto tanto de festejar quando faço anos.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Colatina

Papai comprou uma casa no centro da cidade, ao lado da Igreja. Ficamos contentes, principalmente Mamãe, pois fez muitas amizades,sempre foi muito querida em todos lugares que moramos.

Frequentávamos a Igreja, principalmente no mes de maio. Toda tarde tinha a coroação de Nossa Senhora e todos os dias levavamos flores para Maria.

Comecei a estudar no Colégio Cristo Rei. Tinha uma irmã muito querida por todas as alunas, ela parecia uma boneca, baixinha, com o rosto redondo, sempre risonha. Ao chegar um dia ao colégio soubemos que ela havia fugido com um congregado mariano. Quando mudei para Vitória fui visitá-la em Paul, foi uma decepção! Ela estava magra, feia, cheia de filhos e não era feliz no casamento.

Em Colatina alugavamos bicicletas e podíamos andar direto em frente de casa. Papai viajava muito e trazia roupas e chapéus lindos para mamãe, ele comprava na Praça Oito, numa loja chamada Flor de Lis. Madrinha sempre dava uma listinha de coisas que ela dizia estava precisando e quando ele voltava trazia broches e tudo que ela pedia, todas ganhavam alguma coisa, mas Madrinha sempre faturava mais.

Perto de nossa casa morava um senhor com esposa e duas filhas, ele era feio mas a esposa era bonitona. Um dia papai falou para mamãe evitar a amizade com aquela senhora, mamãe queria saber porque que ela não era mulher séria. É que ele estava tendo um caso com a vizinha e ficou com medo de mamãe descobrir. Quando ele viajava eu até gostava, era uma oportunidade de dormir com Mamãe. Se ele ia viajar para passar um ou dois dias fora, Odete, a chorona da casa, abria a boca, parecia que ele não ia voltar. Ela sempre foi dengosa e é assim até hoje. Aqui em casa dizemos que ela dorme no formol pois esta sempre bem e não envelhece.

Quando Madrinha estava no internato, no Carmo, ela achou que ia ficar reprovada, pediu a Santa Terezinha um sinal se ela ia conseguir passar. Se ela fosse conseguir passar, ela queria ganhar uma rosa. Ao mesmo tempo, pensava quem vai dar uma rosa no colégio. Estava pensando nisso quando o jardineiro do colégio que estava podando o jardim, pegou uma rosa e deu para ela. E claro que ela passou e ficou tão fã da Santa que até hoje tem a maior devoção.

Eu, sendo a filha mais nova, sempre usava os vestidos que ficavam pequenos em Odete, mas no Natal Mamãe fez um vestido lindo de organza azul claro,tinha um elástico no decote e um na cintura, eu me achei a tal. Não usei o vestido no dia de Natal, tive muita febre.

Um vizinho nosso casado com minha madrinha de consagração, foi levar uma lancheira com quatro maçãs dentro. O cheiro impregnou a lancheira que nunca usei pois so em abrir aquele cheiro de maçã me enjoava.

Papai chegou em casa com um pacote pequeno e disse que quem acertasse o que tinha ali ganharia o presente, eu acertei, mas quem ficou com a moderna escova de dentes com cabo de metal foi Madrinha. Ás vezes, ser a caçula não é bom.

Quando tinha manga em casa eu chupava a parte da poupa e guardava o caroço, que era meu predileto, para o fim. Mas sempre chegava um atrasado e mamãe falava: Heny da o caroço para fulano. Depois disso, primeiro chupo o caroço.

Fiz minha primeira comunhão no dia de Natal, meu vestido foi de tafetá cheio de nervuras. Quando vi os retratos, dias depois, me achei tão parecida com um sapinho com cachos. Toda a minha vida, até quando era mocinha, me olhava no espelho e nunca achava que estava bem. Hoje quando encontro algum conhecido e fala que eu parecia uma boneca, fico danada da vida. Agora não quero saber queria que me tivesem dito isto naquele tempo.

O Colégio onde as meninas estudavam promoveram um passeio de vaporzinho que era um barco á vapor. Sairia cedo de Colatina, iria até Linhares, onde passaria o dia, retornando no mesmo dia. A família foi toda, conhecemos a lagoa Juparanã e aproveitamos muito o passeio.

Colatina

Mudamos para uma casa que papai comprou no centro da cidade ,era ao lado da Igreja.Ficamos felizes e mamãe mais ainda  tinha várias amigas que moravam perto ,sempre foi muito querida.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Meu pai

Tenho grande admiração por ele . Com nove anos perdeu o pai e sendo o filho mais velho tinha que ajudar no sustento da casa. Vóvo Maria, mãe dele, estava com um machucado grande na perna, não podia trabalhar e papai se empregou, trabalhava na enchada para ganhar quatrocentos reis por dia. Á noite montava em uma mula e ia até a casa do professor para aprender a ler. Ás vezes, ao invés de dar aula, o professor mandava ele ser parceiro no jogo de cartas e ele ficava sem aula. Voltava para casa cochilando sobre o cavalo, que sabia bem o caminho de volta, ainda bem! Nunca mais quis jogar nada, dizia que tinha alergia a qualquer jogo. Acho que ficou traumatizado. Aprendeu a ler e principalmente a fazer contas, ninguém ganhava dele.Vendeu tudo o que tinha em Acioli, a casa da venda, a da colonia e a tropa de burros que ele levava para vender coisas no interior e trazia café. Comia muita carne sêca nestas viagens, enjoou desta comida.

Mudamos para Colatina, a viagem de trem para mim foi uma festa! Mudar de casa já era bom, mas de cidade era muito mais emocionante. Em Colatina fomos morar em Venda Nova, um bairro novo, com poucas moradias. Papai alugou um sobrado de Moacir Brotas, um ricaço de lá. Ele construiu a casa muito grande e confortável, mas a esposa dele não gostou de morar la e ele alugou.

Madrinha Dalva estava no internato em Vitoria ( no Carmo), Dulce e Arlethe foram para o colegio Conde, de Linhares. Arildo, o único filho homem, tinha uma porção de regalias. Papai comprou um cavalo novo para ele, o bairro não tinha movimento e seria uma boa diversão para ele, mas o danado do cavalo tinha medo do barulho dos carros, quando passava algum ele empinava e derrubava quem estivesse montando. Ensinaram papai a amarrar o dito cujo no portão, que ele ia acabar se acostumando com os carros. Mas não teve jeito, depois de semanas sem ficar acostumado com o barulho o cavalo foi vendido. Arranjamos uma lavadeira, não lembro o nome, ela mandava o filho buscar e levar a roupa, mas o garoto so aparecia nas horas mais impróprias e papai falava lá vem o boca de cumbaca, não sei o que é boca de cumbaca , mas quando vemos alguém falando com boca mole penso logo no boca de cumbaca.

A casa era bem grande, tinha uma varanda que unia nosso quarto com o de mamãe. Todas as noites eu ia para a cama de mamãe, papai ficava uma fera! Depois de brigar muito, resolveu trancar o quarto mas consegui passar pela varanda e ir para o meu cantinho na cama deles, foi a última vez, o brigueiro foi demais.

Papai estava melhor de finanças e comprou um carro. No dia seguinte que trouxeram o carro, ele resolveu levar as meninas, inclusive Clea, que estava lá  para o colégio. Quando estava chegando em Colatina, perdeu a direção e foi para dentro da padaria do Sr. Fontana, que levou um grande susto ao ver um carro com tres moças e um motorista inexperiente entrado na padaria, mas como sempre tudo acabava bem e era motivo de risada.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Nossos amigos

Mais adiante encontrávamos a fazenda dos Palassi. Uma vez por ano eles faziam um piquenique e reuniam toda a cidade. Na véspera todos aprontavam o que faziam de melhor. Era frango assado, pastéis, bolos frutas, tudo de bom! Chegando na fazenda iam colocando tudo sobre uma mesa armada no pasto e todos comiam de tudo, sem saber de quem era. Além das brincadeiras, para todos era um dia divertido e esperado.

Saindo de casa, para a esquerda, a casa mais próxima era de Seu Oderico e D. Davina, eles tinham vários filhos e eram nossos companheiros de brincadeira. No terreno da casa deles tinha uma bacia de madeira de ensacar café, quando não estava sendo usada, brincávamos de escorregador. No quintal tinha sempre um monte de palha de café que parecia não ter fogo, mas o fogo estava lá e queimava dias e dias. Um dia Arlethe, minha irmã, pisou na beirada do monte de café e ficou com uma queimadura, que depois ficou uma cicatriz para sempre.

Depois da casa do Seu Oderico, vinha a casa  dos Lirio, do Zaganelli e dos Raiser, uma familia muito querida que sempre nos recebeu muito bem. Do outro lado da linha do trem tinha a casa do Sr. Coriolano, um dos homens mais ricos da cidade. Ao lado da casa verde do Sr. Coriolano tinha a subida para a Igreja. Ao lado da Igreja tinha o Cemitério onde estavam minha irmã Zulmirinha e os pais de mamãe que não conheci.

Chegada dos primos

Uma tarde, depois que o trem passou, vimos um homem magrinho subindo em direção da nossa casa, ele trazia na mão uma maleta e usava um terno preto: era o irmão de mamãe, tio Tóte, que veio perguntar se poderia trazer seus seis filhos para ficar lá em casa enquanto ele ia ver o que iria fazer com a vida, pois perdera a mulher, tia Nívea, de parto e o ultimo filhinho. (Depois de quase sessenta anos, conversando com uma das filhas dele, ela me disse que não conseguia esquecer do choro daquele neném que morrera).

Agora eu vejo como papai com toda a ranhetice dele era bom, concordou logo e titio foi à Vitória buscar as crianças. A menor tinha dois anos e era com quem eu mais bricava, eu e Neila estávamos sempre juntas. Tio Tóte fazia tudo para alegrar as crianças.

Em Acioli as luzes eram ligadas às dezoito horas e desligadas à meia-noite. Quando chegava a energia todos tomavam a benção dos pais. Papai ainda não tinha comprado o rádio e depois do jantar sentávamos na sala nos distraindo antes da hora de dormir. Ele sempre inventava brincadeiras. Já estávamos na sala, Herondina lavava a louça do jantar. A janela sobre a pia dava para o quintal que, por não ter iluminação, era escuro como breu. Titio  colocou um pano na cabeça (ele era muito magro)  um óculos e foi até a janela da cozinha pedir comida. Herondina disparou para a sala morrendo de medo, pois nossa casa era longe das outras. Enquanto isso tio Tóte quase morria de rir. Ela era sempre o alvo das brincadeiras por ser do interior e muito medrosa. Passaram uns dias e ele pediu para que todos ficassem sentados ao redor da sala. Ele havia enfumaçado vários pratos sem sabermos e deu um prato para cada um. Apagou a luz e falou quem esfregasse a mão embaixo do prato com mais força e esfregasse no rosto, no prato ia aparecer o nome do namorado que iria ter. Claro que Herondina caprichou, quando ele acendeu a luz foi so risada, Herondina de morena estava roxa de fumaça!

Todas as tardes, a hora do lanche era a melhor, mamãe fazia sempre uma novidade. Na cozinha tinha uma mesa grande e quando ela chamava já sabiamos que a melhor hora tinha chegado. Fazia rosquinhas de sal amoníaco (que por sinal nunca consegui fazer igual), ela enchia as latas de balas da Garoto (aquelas que tintam um garoto com bonezinho pintado) que vinham da venda com rosquinhas que eram uma delicia. Outro dia fazia arroz doce, papa de milho, pastel de creme e mingau. Quando chegávamos na mesa tinha um pratinho para cada um.

Um dia tio Tóte falou que à noite teríamos uma surpresa, ficamos animados e como sempre todos sentados na sala esperando para ver o que era. Ele trouxe um saco para o meio da sala e quando ele abriu começaram a pular tres minhocussú pretos e grandes como se fossem cobras. Cada um correu mais do que o outro e fomos parar no terreiro enquanto ele se acabava de rir. Depois que passou uma temporada lá em casa foi se estabelecer em Colatina. De todas as filhas dele a que ficou mais proxima da nossa família foi Clea,que para nós é uma irmã.

O primeiro rádio de Acioli foi o nosso. Era um sucesso, não entendiamos como saia música e vozes daquela caixa.

Da nossa casa avistávamos a maior parte da cidade.Teve uma vez que teve uma epidemia, acho que foi escarlatina, e ficávamos contando quantos mortos passavam amarrados em lençóis pois não dava tempo de fazer tantos caixões.

Fui batizadas por minha irmã Dalva, ela tinha nove anos. Na hora do batismo, meu padrinho não aparecia(Homero, irmão de Nininha)  foram buscar no bar, já estava comemorando. Foi muito bom ter uma madrinha tão nova, ela esta bem até hoje e nos damos super bem. Como eu só sei chamá-la de madrinha, minhas filhas assim acostumaram também.

Minha madrinha de Crisma foi Ladi, ela era da familia Lirio. Fez um vestido tão lindo que nunca esqueci, era de seda rosa chá, a blusa tinha casinha de abelha com botões rosa do mesmo tecido sobre a casinhas de abelha, de criança foi o vestido mais lindo que tive.

Quando morávamos na casa da venda, tinhamos ótimos vizinhos. Se fossemos para a direita e andassemos uns quinhentos metros, chegávamos na casa de D. Deolinda, que também lavava nossa roupa. Para ir á casa dela atravessávamos o rio, eles fizeram uma pinguela que é uma ponte feita de uma árvore do comprimento da largura do rio cortada ao meio com um corrimão de um lado. Ela era uma senhora ótima que gostava de todos lá em casa. Na casa dela, além de uma filha, morava seu pai chamado o velho Bisse. Achávamos engraçado porque ele colocava o cinto sem os passadores. Até hoje, quando vejo alguém usando o cinto assim, falo logo: está igual ao velho Bisse.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A casa da colonia

Um dia mamãe saiu e deixou Nininha (tia Dininha) e Herondina tomando conta de mim. Saí de casa sem que elas percebecem e fui me esconder dentro de uma caixa de água vazia que estava no meio do pasto, puxei a tampa para me esconder melhor, logo depois, ouvi Nininha e Herondina e eu quietinha sem me mexer.

Nininha chamava, minha filha, onde voce está? E eu escondida. Pensaram que eu havia caido em algum buraco ou ido para perto do rio. O tempo foi passando e eu comecei a ficar com medo da peça que estava pregando, resolvi fingir que estava dormindo na caixa dàgua. Foi a minha sorte, logo depois me acharam e ficaram com pena por eu ter dormido ali, me pegaram no colo para a cama e eu sempre fingindo que estava dormindo.

Uma noite de temporal vieram avisar em casa que havia caido uma grande árvore. Fomos ver. Era um  pau d'alho que havia caído. Brincamos muito naqueles galhos e ficamos com tanto cheiro de alho que ninguem aguentava. Tomamos banho logo que voltamos para a casa, mas a brincadeira foi ótima  por isso está na minhas lembranças.

Na época de cajú, vestíamos nossa roupa mais velha, subíamos o morro onde tinha o cajueiro, ficávamos a tarde toda chupando cajú, sem nos preocupar com manchas na roupa. Quando chegávamos em casa,  aquela roupa ia para o lixo, apesar de dizerem que as manchas do cajú sairiam na outra safra. Mas, como a roupa era velha, não compensava guardar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Mudança, Acioli

Nasci em janeiro, todas as minhas irmãs dizem que eu era feia que parecia um sapinho. Mamãe contava que ela não tinha tempo para se alimentar e comia muito chocolate, mas que eu nunca tive problema de dor de barriga, mas fiquei chocólatra desde aquela época. Acho que fui uma decepção para papai, tinham cinco meninas, um menino e para arrematar mais uma menina, eu.

Quando fiz tres meses, mamãe teve câncer de colo de útero, foi com papai para o Rio fazer o tratamento de radioterapia. Isso em 1935, ela sozinha no Rio, em uma pensão em um lugar estranho, sem marido, sem os filhos e em tratamento para a cura do cancêr. Imagino o que ela passou. Papai teve que voltar para ficar  com os filhos e cuidar dos negócios. Naquele tempo não tinha telefone, só telégrafo ou carta, que demorava muito para chegar pois o transporte era o trem Maria-fumaça. Ela ficou três meses no Rio, enquanto nossa prima Dininha ajudava papa ia tomar conta de mim e dos outros filhos. Papai contava que enquanto mamãe estava fora, eu fiquei doente, tive uma desenteria amebiana (acho que foi efeito atrasado do chocolate). Quase morri e o medo dele é que acontecesse alguma coisa pior sem mamãe, mas enfim melhorei e estou aqui até hoje. Quando comecei a andar minhas irmãs me colocavam no final do corredor, corriam e me chamavam, eu vinha confiante e elas me davam um susto, eu ria e a brincadeira se repetia. Acabei doente de tanto susto que me deram. 

A casa da Colônia, como era chamada, era azul e grande, ficava no alto de uma colina. Para chegar lá, atravessavámos uma ponte sobre o rio Santa Maria , lá de casa avistávamos quase toda a cidade de Acioli. Ao redor dela tinha muito pasto, curral, árvores frutíferas, tudo o que uma criança podia querer para brincar. Uns cem metros de nossa casa ficava a casa de Chico Eva. Ele morava com  três filhas, um filho e a mãe. Maria e Mariana eram nossas companheiras de brincadeira, subiam nas goiabeiras com a maior facilidade, o que nos encantava. Pegávamos guachuma para fazer travesseiro com a paina e estávamos sempre juntas,  apesar da minha pouca idade que devia ser três anos.

O que eu gostava mesmo era de ir á casa de Chico Eva onde a mãe dele também morava. Era uma senhora magrinha que estava sempre sentada perto do fogão de lenha. Ela usava uma saia comprida de chita e uma bata tambem de chita, um lenço na cabeça amarrado sob o queixo e umas chinelas fechadas na frente. Tinha sempre um cachimbinho que ela dizia que era o pito. Ela havia sido escrava e tinha boa memória. Sempre que podia sentava perto de Mãe Eva, como ela era chamada, e ficava ouvindo com a maior atenção os casos que ela contava do tempo que era escrava. Por mim ficava sempre ali pois queria ouvir sempre mais uma história. Quando aprendi a pintar telas fiz o retrato de uma senhora morena perto de um fogão e dei  o nome do quadro de Mãe Eva, ninguém entendeu, mas eu sim. Era minha contadora de histórias, de minha infancia.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Acioli, A mudança,

Nasci na casa da venda, assim chamávamos nossa residência. Ficava na rua principal, tinha três portas para a venda , uma janela e um portão que dava acesso à nossa casa por uma varanda. Nesta venda como todo comércio do interior se vendia de tudo o que se pode imaginar, carne sêca, arroz , feijão, tudo para a alimentação. Como também balas, biscoitos, aviamentos e fazendas como brim, chita e morim. Enfim, o que se procurava ali tinha. Nesta venda, mesmo se mamãe estivesse ajudando papai, nossa presença era proibida, apesar da porta de vidro azul que ia para um corredor de nossa casa. Atrás de casa passava o rio Santa Maria onde nossa roupa era lavada. Às vezes, depois de muita insistencia, mamãe deixava que fossemos ate a beirada do rio onde ficavam os bastedores de roupa das lavadeiras mas quando as meias e os lenços começavam a ir embora com a correnteza éramos mandados para casa. Estávamos saindo desta casa para outra maior e mais confortável. Mamãe deixou eu ir na carroça com Herondina, uma ajudante e Chico Eva, um senhor que tabalhava há muitos anos com papai. Esta é a lembrança que tenho desse dia. eu muito pequena com o cabelo cheio de cachos, com um vestido estampado com uma pala de renda que havia sido um presente de Herndina. Eu estava feliz pois ia mudar de casa e ia antes de todas as irmãs.