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domingo, 16 de janeiro de 2011

Meu pai

Tenho grande admiração por ele . Com nove anos perdeu o pai e sendo o filho mais velho tinha que ajudar no sustento da casa. Vóvo Maria, mãe dele, estava com um machucado grande na perna, não podia trabalhar e papai se empregou, trabalhava na enchada para ganhar quatrocentos reis por dia. Á noite montava em uma mula e ia até a casa do professor para aprender a ler. Ás vezes, ao invés de dar aula, o professor mandava ele ser parceiro no jogo de cartas e ele ficava sem aula. Voltava para casa cochilando sobre o cavalo, que sabia bem o caminho de volta, ainda bem! Nunca mais quis jogar nada, dizia que tinha alergia a qualquer jogo. Acho que ficou traumatizado. Aprendeu a ler e principalmente a fazer contas, ninguém ganhava dele.Vendeu tudo o que tinha em Acioli, a casa da venda, a da colonia e a tropa de burros que ele levava para vender coisas no interior e trazia café. Comia muita carne sêca nestas viagens, enjoou desta comida.

Mudamos para Colatina, a viagem de trem para mim foi uma festa! Mudar de casa já era bom, mas de cidade era muito mais emocionante. Em Colatina fomos morar em Venda Nova, um bairro novo, com poucas moradias. Papai alugou um sobrado de Moacir Brotas, um ricaço de lá. Ele construiu a casa muito grande e confortável, mas a esposa dele não gostou de morar la e ele alugou.

Madrinha Dalva estava no internato em Vitoria ( no Carmo), Dulce e Arlethe foram para o colegio Conde, de Linhares. Arildo, o único filho homem, tinha uma porção de regalias. Papai comprou um cavalo novo para ele, o bairro não tinha movimento e seria uma boa diversão para ele, mas o danado do cavalo tinha medo do barulho dos carros, quando passava algum ele empinava e derrubava quem estivesse montando. Ensinaram papai a amarrar o dito cujo no portão, que ele ia acabar se acostumando com os carros. Mas não teve jeito, depois de semanas sem ficar acostumado com o barulho o cavalo foi vendido. Arranjamos uma lavadeira, não lembro o nome, ela mandava o filho buscar e levar a roupa, mas o garoto so aparecia nas horas mais impróprias e papai falava lá vem o boca de cumbaca, não sei o que é boca de cumbaca , mas quando vemos alguém falando com boca mole penso logo no boca de cumbaca.

A casa era bem grande, tinha uma varanda que unia nosso quarto com o de mamãe. Todas as noites eu ia para a cama de mamãe, papai ficava uma fera! Depois de brigar muito, resolveu trancar o quarto mas consegui passar pela varanda e ir para o meu cantinho na cama deles, foi a última vez, o brigueiro foi demais.

Papai estava melhor de finanças e comprou um carro. No dia seguinte que trouxeram o carro, ele resolveu levar as meninas, inclusive Clea, que estava lá  para o colégio. Quando estava chegando em Colatina, perdeu a direção e foi para dentro da padaria do Sr. Fontana, que levou um grande susto ao ver um carro com tres moças e um motorista inexperiente entrado na padaria, mas como sempre tudo acabava bem e era motivo de risada.

3 comentários:

  1. Vovô era mesmo um guerreiro...bj mãe

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  2. Apesar de ser invocado demais,ele me lembra muito papai,era uma pessoa maravilhosa.Queboas lembranças mãe,que bom saber disso tudo,bjs.Seu blog está lindo demais!

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  3. É, hoje a gente vÊ como vovo era guerreiro mesmo, cada um do seu jeito!! Mas ele aguentava firme essa netaiada toda na casa dele!!!

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