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sábado, 15 de janeiro de 2011

Chegada dos primos

Uma tarde, depois que o trem passou, vimos um homem magrinho subindo em direção da nossa casa, ele trazia na mão uma maleta e usava um terno preto: era o irmão de mamãe, tio Tóte, que veio perguntar se poderia trazer seus seis filhos para ficar lá em casa enquanto ele ia ver o que iria fazer com a vida, pois perdera a mulher, tia Nívea, de parto e o ultimo filhinho. (Depois de quase sessenta anos, conversando com uma das filhas dele, ela me disse que não conseguia esquecer do choro daquele neném que morrera).

Agora eu vejo como papai com toda a ranhetice dele era bom, concordou logo e titio foi à Vitória buscar as crianças. A menor tinha dois anos e era com quem eu mais bricava, eu e Neila estávamos sempre juntas. Tio Tóte fazia tudo para alegrar as crianças.

Em Acioli as luzes eram ligadas às dezoito horas e desligadas à meia-noite. Quando chegava a energia todos tomavam a benção dos pais. Papai ainda não tinha comprado o rádio e depois do jantar sentávamos na sala nos distraindo antes da hora de dormir. Ele sempre inventava brincadeiras. Já estávamos na sala, Herondina lavava a louça do jantar. A janela sobre a pia dava para o quintal que, por não ter iluminação, era escuro como breu. Titio  colocou um pano na cabeça (ele era muito magro)  um óculos e foi até a janela da cozinha pedir comida. Herondina disparou para a sala morrendo de medo, pois nossa casa era longe das outras. Enquanto isso tio Tóte quase morria de rir. Ela era sempre o alvo das brincadeiras por ser do interior e muito medrosa. Passaram uns dias e ele pediu para que todos ficassem sentados ao redor da sala. Ele havia enfumaçado vários pratos sem sabermos e deu um prato para cada um. Apagou a luz e falou quem esfregasse a mão embaixo do prato com mais força e esfregasse no rosto, no prato ia aparecer o nome do namorado que iria ter. Claro que Herondina caprichou, quando ele acendeu a luz foi so risada, Herondina de morena estava roxa de fumaça!

Todas as tardes, a hora do lanche era a melhor, mamãe fazia sempre uma novidade. Na cozinha tinha uma mesa grande e quando ela chamava já sabiamos que a melhor hora tinha chegado. Fazia rosquinhas de sal amoníaco (que por sinal nunca consegui fazer igual), ela enchia as latas de balas da Garoto (aquelas que tintam um garoto com bonezinho pintado) que vinham da venda com rosquinhas que eram uma delicia. Outro dia fazia arroz doce, papa de milho, pastel de creme e mingau. Quando chegávamos na mesa tinha um pratinho para cada um.

Um dia tio Tóte falou que à noite teríamos uma surpresa, ficamos animados e como sempre todos sentados na sala esperando para ver o que era. Ele trouxe um saco para o meio da sala e quando ele abriu começaram a pular tres minhocussú pretos e grandes como se fossem cobras. Cada um correu mais do que o outro e fomos parar no terreiro enquanto ele se acabava de rir. Depois que passou uma temporada lá em casa foi se estabelecer em Colatina. De todas as filhas dele a que ficou mais proxima da nossa família foi Clea,que para nós é uma irmã.

O primeiro rádio de Acioli foi o nosso. Era um sucesso, não entendiamos como saia música e vozes daquela caixa.

Da nossa casa avistávamos a maior parte da cidade.Teve uma vez que teve uma epidemia, acho que foi escarlatina, e ficávamos contando quantos mortos passavam amarrados em lençóis pois não dava tempo de fazer tantos caixões.

Fui batizadas por minha irmã Dalva, ela tinha nove anos. Na hora do batismo, meu padrinho não aparecia(Homero, irmão de Nininha)  foram buscar no bar, já estava comemorando. Foi muito bom ter uma madrinha tão nova, ela esta bem até hoje e nos damos super bem. Como eu só sei chamá-la de madrinha, minhas filhas assim acostumaram também.

Minha madrinha de Crisma foi Ladi, ela era da familia Lirio. Fez um vestido tão lindo que nunca esqueci, era de seda rosa chá, a blusa tinha casinha de abelha com botões rosa do mesmo tecido sobre a casinhas de abelha, de criança foi o vestido mais lindo que tive.

Quando morávamos na casa da venda, tinhamos ótimos vizinhos. Se fossemos para a direita e andassemos uns quinhentos metros, chegávamos na casa de D. Deolinda, que também lavava nossa roupa. Para ir á casa dela atravessávamos o rio, eles fizeram uma pinguela que é uma ponte feita de uma árvore do comprimento da largura do rio cortada ao meio com um corrimão de um lado. Ela era uma senhora ótima que gostava de todos lá em casa. Na casa dela, além de uma filha, morava seu pai chamado o velho Bisse. Achávamos engraçado porque ele colocava o cinto sem os passadores. Até hoje, quando vejo alguém usando o cinto assim, falo logo: está igual ao velho Bisse.

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