Páginas

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vinda para Vitória

Em 1940 mudamos para VItória. Papai já era exportador de café e estava abrindo uma firma aqui. Fomos morar na rua Thieres Veloso, perto do Parque Moscoso. A frente do sobrado era para esta rua, o quintal dava para a ladeira D.Fernando.

Fomos matriculadas no Carmo, Arildo no Salesiano e Dulce preferiu o Colégio Americano. Madrinha já estava noiva, casou com Otto, apesar de meus pais não fazerem muito gosto. Otto gostava de jogar e papai, como detestava jogo, já viu, implicou!

Podiamos brincar em frente de casa. Na rua de trás passava o bonde que ia até Santo Antônio. Podiamos estar no maior pique, mas quando tocava a música do Repórter Esso, dando as notícias da querra, corríamos todos para perto do rádio, para saber as notícias. O trigo ficou racionado, papai encomendava pão de Cachoeiro onde ainda se encontrava o produto, comiamos pão dormido e nem reclamávamos.

Várias conhecidas de mamãe que moravam em Acioli moravam em Vitória e as amizades continuaram. Madrinha casou na Catedral, com um vestido de setim confeccionado por Madame Prado, a chic da época. Não consigo lembrar minha roupa, acho que não era grande coisa.

Papai comprou uma casa na Ladeira Santa Clara, era a casa mais bonita que eu jÁ tinha visto. Tinha três andares. Abrindo o portão de ferro da rua, subiamos uns oito degraus e tinha um platô com bancos e jardim. Depois de subir mais alguns degraus, chegávamos na varanda da casa. Esta varanda era arredondada, com duas escadas, uma de frente e outra do lado. O piso das salas era de taco em forma de flores e mosaicos, não tinha um taco retangular, todos formavam desenhos. No primeiro andar, além de outra varanda na lateral, tinha três salas: uma de estar, uma de jantar, a do piano e uma copa com uma cozinha bem grande com um fogão elétrico de seis bocas. No segundo e terceiro andar ficavam os quartos, banheiros e biblioteca. Logo que mudamos, papai chamou o Maia, o melhor fabricante de móveis de jacarandá, ele ia só tirando as medidas e fabricando jogos de quarto, sala de jantar, móveis para a primeira sala, além das cortinas e dos sofás, o que havia de melhor! A casa ficou uma beleza.

Continuamos a estudar no Carmo, apesar de um pouco longe, papai levava e na hora do almoço trazia todo mundo.

Madrinha mudou para Curitiba e mamãe ficava cheia de saudade. Dulce estava namorando Milton Simões e Arlethe estava de olho em um rapaz que morava na ladeira também. Ele era um pouco farrista e subia a ladeira quase meia noite assobiando. Papai não queria o namoro, levou Arlethe para o Rio onde ficou na casa de uns primos por três meses. Comeu o pão que o diabo amassou. Eles não eram de fazer muito tipo de comida, faziam mexido que nós nem conheciamos e ela não gostava e foi ótimo pois ela emagreceu e ficou muito melhor.

Todas as terças-feiras, os sócios de papai almoçavam lá em casa, era o dia do banquete. Cada semana um tipo de comida. Arlethe, logo que chegou do Rio, começou a namorar Américo que havia terminado um longo namoro.

Quando fiz exame de admissão para a primeira série ginasial, não passei(também, eu não estudava mostrava o boletim para papai, ele só olhava a nota de comportamento, se fosse dez, ele assinava sem olhar mais nada), fiquei danada da vida e quis ir estudar no Americano. Estudei um ano lá, foi ótimo, conheci muita gente boa e alegre.

Foi nessa época que comecei a namorar, ele morava em uma rua abaixo da ladeira e era um namoro muito bonito e inocente, mais de longe do que perto. Todas as manhãs, quando ia às sete horas para o colégio, ele estava na sacada da casa dele esperando me ver passar. Eu também esperava ansiosa por aquele momento. Era raro nos encontrar, às vezes íamos à matinê do Cine Glória, sempre com várias colegas.Sentávamos juntos, mas nem pegávamos na mão um do outro. Ele escrevia cartas lindas que lamento não ter conseguido guardar. O namoro era escondido, eu escondia as cartas que eram entregues por amigas, guardava tudo na última prateleira da estante atrás dos livros que eram pouco procurados, ninguém descobriria. Quando fui para o internato papai mandou pintar a casa e tiraram todos os livros e assim jogaram fora as lindas cartas de amor que eu guardava.

Um dia resolvi cortar meu cabelo eu mesma, cortava de um lado, ia acertar do outro e quando acertei estava com o cabelo tão curto que lá em casa todos me chamavam de sargento Verde, aquela moça que cortou o cabelo para entrar no exército. Fiquei um mês sem matinê. Em Maio de quarenta e cinco foi declarado o fim da guerra, a comemoração foi demais! Todos cantavam pelas ruas, parecia Carnaval.

5 comentários:

  1. Ahhhhhhhhhhh,eu lembro muito dessa casa,coisa mais linda e que quintal maravilhoso com aquela mangueira nos fundos!!!!Nossa tempo bom que não volta....sniff sniff.Não para,não para,não para não mãeeeeeeeee.

    ResponderExcluir
  2. Eu lembro, demais!Era linda! Até hoje sinto saudades!
    Agora, quem era o namorado Tia Heny? Já era Tio Raul? Conta!

    ResponderExcluir
  3. Continua, adorando!leio e fico esperando, outro dia para saber mais! Beijos, Denise

    ResponderExcluir
  4. n ao sabia quw tia dalva tinha morado em curitiba;....

    ResponderExcluir