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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Recordações perdidas mas não esquecidas

Quando eu tinha uns nove anos precisava extrair um dente. Fui ao consultório, tomei a anestesia e lembrei que não tinha avisado à mamãe que iría ao dentista aquele dia. Fechei a boca e não deixei o dentista completar o que estava fazendo, ele insistiu que eu já havia tomado a anestesia, mas fui para casa e fiquei quietinha sem falar nada. À noite, o dente começou a doer, tive que falar o que tinha feito. Levei um brigueiro e no dia seguinte tive que extrair o dente. Fiquei traumatizada e comecei a ter medo de ir ao dentista.

Quando morava em Vitória, precisei tratar um dente com Dr. Moacyr Lofgo. Papai precisou ir lá no consultório e quase me deu uns tapas para eu abrir a boca. Abri, mas me contorcia tanto que presaram me segurar à força. Agora já passou, Dr. Márcio está de prova que sou quietinha na cadeira do dentista.

Papai sempre acordou muito cedo. Fazia uma meia hora de exercício em um terraço do lado do meu quarto e tomava banho frio, tudo acompanhado por musicas caipiras. De tanto ouvir e por me fazer lembrar dele, até hoje ouço e gosto muito! Brega ou não, sou um pouco caipira mesmo.

Odete, antes de Silvino, namorou um rapaz muito bonito, de familia muito conhecida nossa, não deu certo. Sorte dela! O cara engordou tanto que perto de Silvino, que continua elegante, ia parecer casa da Banha. hahaha!!!

Depois que Arlethe morreu, Raul encontrou o fã que subia a ladeira à meia noite assobiando...ele disse: "se ela tivesse casado comigo garanto que estaria viva". Foi uma fatalidade, aconteceu e nada faria mudar isso.

Um dia, dormi na casa de Dulce e Milton e me assustei quando, na hora do cafe da manhã, milton, para fazer Rita tomar todo o leite, apertava a boquinha dela - igual papai fazia quando tomavamos óleo de Rícino - e ia dando o leite à força. Ele dava e ela cuspia, ele acabou desistindo.

Quando estávamos em Guarapari, íamos ao menos uma vez Praia do Morro. Era um dia especial. Arrumávamos a maior farofada e ia a família toda. Saíamos bem cedo de casa para atravessar para Muquiçaba. Não tinha ponte, quem chegava ou saia de Guarapari tinha que ser de balsa ou de barco. Os barqueiros e a balsa só ficavam no cais até as dez. Já viu, quem chegava atrasado não tinha como atravessar! Andávamos do cais até a praia do Morro, não tinha quase casa nenhuma. Quando chegávamos lá era uma delicia, catávamos galhos de árvore para fazer sombra, não se vendia barraca de praia, nem sabíamos o que era isto. Colocávamos nossa roupa sobre os galhos secos e era só diversão. Foi lá que com três anos quase morri afogada, eu achava que podia enfrentar as ondas e me dei mal. Ficávamos lá até as duas ou três horas, a praia completamente deserta... Uma vez passava dois pescadores que estavam seguindo andando até Perocão, a praia seguinte, não conseguíamos ver o final da praia do morro e eles andavam aquilo tudo até chegar em Perocão. Voltávamos tão cansados que nem sorvete queríamos ir tomar à noite, mas valia a pena todo cansaço!!!!

Quando chegavamos na praia, eram quatro moças e eu, a raspinha do tacho, só se ouvia: "chegaram as Zorzanellis". Assim acontecia quando chegavam as "Gianordolis", só que as meninas lá de casa eram mais bonitas. Quando comecei a namorar com Raul, ele dizia que eu tinha um corpo bonito, eu dizia para ele que era porque eu usava cinta. Um dia estávamos perto do Siribeira, eu de saída de praia e ele resolveu tirar um retrato, fiquei só de maio e o queixo dele quase caiu!!! Disse para mim, "você não disse que usava cinta?", e eu falei: "e voce acreditou?", foi uma surpresa boa!!!

Quando casamos minha cintura era 56, era muito magra. Dizem que a mulher, depois que casa, se ela engirdar um quilo por ano, não é aconselhavel. Tenho 56 de casada, já viram que eu abusei!!! Ele media com a fita métrica todo mês para ver se eu estava engordando muito por causa da gravidez. Até pouco tempo ele tinha esta agenda que, sinceramente, preferia não ver. Mas os cupins deram conta das anotações dele. Ele anotava tudo e é assim até hoje! Anota o que comprou, o que vai comprar, quanto gastou faz um orçamento do mês... eu não quero nem saber, não anoto nada, não vou lembrar para que anotei e nem vou ler, prefiro deixar o barco correr.

Antes do nosso casamento, um colega dele casou. Este colega também foi trabalhar em Colatina, como também uma de minhas amigas de Vitória. Íamos fazer vizitas e receber também. Uns vinte anos depois, quando voltei para Vitória, fizemos uma sociedade e abrimos uma boutique mas, como Raul trabalhava como chefe da cobrança, o Banco implicou e sai da loja. Foi um tempo muito bom, minhas filhas já estavam grandes e ganhavam muita roupa bonita que trazia das viagens. Eu saia cedo de casa geramente ia pelo aquaviário, ficava na loja pela manhã e minha sócia à tade.

Raulzinho quando nasceu era igual a um boneco que eu tive quando era criança. Muito esperto, com cinco meses não ficava um minuto sentado no carrinho, ia em pé perecendo um prego, por mais buracos que tivesse na rua, ele segurava no ferro da frente sem sentar. Um dia depois que estávamos morando em Cambuqui, ele acordou depois do sono da tarde e resolveu pintar todo o berço com sua própria sujeira. Quando cheguei no quarto, ele estava quietinho mas não tinha jeito nem de pegar para levar para o banho. Pior depois foi lavar o berço e deixar ele cheiroso como sempre. Se ele acordava e queria sair da cama - o berço dele era aquele modelo Faixa Azul, que era a ultima moda em berço, presente de papai e mamãe, era branco com capitonê azul na cabeceira e nos pes - ele colocava as mãos na madeira e dava um impulso e caia em pe no chão. Tinha que ser vigiado, até quando dormia era um perigo.

Quando íamos de férias na casa de mamãe, na Praia da costa, tomávamos banho de mar ali em frente, onde era o chuveirinho. Os amigos iam chegando, Dr. Armando e Teresa, Jadir e Marize, Maria e Eugênio, Isa e manoel e as irmãs. De aperitivo, mamãe mandava caipirinha e uma panela de carangueijos acabado de cozinhar, era bom demais! Parecia que a praia era só nossa.

Quando eu estava grávida D. Rosinha, mãe de Raul, foi passar uns dias em nossa casa. Na hora do almoço era a hora do aborrecimento, ela queria que Raul me obrigasse a comer tomate, tudo o que eu não gostava, pois dizia que era bom para o bebê. Aquilo me irritava demais, eu que quando solteira só comia um bife com maçã aturar alguém me obrigando a comer o que não gostava e o pior que Raul concordava com ela, o que me deixava mais danada ainda.

Cléa casou antes de mim, viemos ao casamento em Colatina, fiquei admirada quando ela contou que o vestido de noiva dela foi costurado por ela. Diziam que dava azar, ela está bem casada até hoje. Teve três filhos lindos que não deram trabalho, todos gostavam de estudar e se deram bem na vida. Quando ela casou, não sei bem porque, o marido dela não ia muito com nossa cara. Apesar de morarmos, como ela, em Colatina, só íamos na casa uma da outra durante o dia. Agora somos todos amigos e nos damos muito bem.

3 comentários:

  1. Adorei, estas lembranças! Claro, que muita coisa eu não sabia, mas o banho de mar na praia da Costa, os exercicios de vovô, e papai empurrando leite para Rita tomar, tenho na mémoria!Ah! Tinha como é bom ler tudo que você escreve! Adoro! Beijos, Denise

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  2. Lembro dessa parte das férias mãe,muito bom aquele carangueijo na praia...minha avó era o máximo mesmo!!!Não para,não para,não para não!!!! love you,bjs.

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  3. Nossa, e o kibe com torradinha que vovò levava? E a gente que ficava enrolada na areia fervendo igual bife a milaneza? E a alegria quando a gente ganhava picolé? E aquele monte de castanheiras que a gente comia as docinhas e depois tinha dor de barriga?E as caminhadas com Vovô Gildo ,que a gente quase morria e ele nem tava aí.. ainda andava dentro da agua até Itapoã.. não tinha uma casa! Nossa... que viagem!

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